O ESTRANHO

Ó paiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Este era o grito da menina Isabela que tinha o costume de berrar na hora de chamar o pai o Sr. Alberto para o almoço ou para o lanche no sítio onde moravam, a mando de sua mãe Dnª.:Telma. Uma tarde sua mãe a chamou e pediu que fosse chamar o pai para o lanche.

Ao sair ao terraço à menina viu que as galinhas estavam espantadas e logo viu um senhor correndo em direção à porta principal da casa, a qual não era fechada durante o dia. Assustada gritou pelo pai, dessa vez com bem mais força, pois viu um estranho no interior da casa. Sua mãe que também percebeu a presença do homem teve a coragem de cercá-lo e não permitir que ele entrasse no quarto onde fez menção de entrar.

O dono da casa, Sr.: Alberto, logo chegou e quis saber o que estava acontecendo. Viu um homem maltrapilho sentado em um baú que se encontrava na sala de jantar. E viu também que este homem se encontrava assustado e tremia muito. Aproximou e quis saber o que se passava. Ele apenas dizia que tinha gente atrás dele e que queriam matá-lo, estava fugindo. Seus braços estavam todos retalhados, tinha atravessado um matagal correndo daquela perseguição.

Perguntaram-lhe o nome ao que disse chamar-se Joaquim. Ofereceram algo para ele comer e levaram também um leite, que foi posto em uma tigela, pois no copo ele derramaria tudo dado o seu estado. Depois da comida ele permaneceu sentado no mesmo local, pedindo insistentemente que o protegessem, pois não queria morrer. Parecia uma pessoa normal, apenas amedrontado.

Chegou à noite, o que fazer? Ele ainda se encontrava lá. O Sr.: Alberto pediu para sua esposa que preparasse uma cama para o moço na sala. E o que foi feito. Ficaram vigiando até que pegasse no sono o que não demorou muito.

De madrugada a menina Isabela acorda e escuta o moço dizer: “pode vir que agora estou armado, não tenho medo!” Quando se levanta vê uma cena assustadora. O homem tinha apanhado um machado que se encontrava guardado atrás da porta, que quando foi fechada, deixou a ferramenta exposta. Viu que seu pai tentava tirar o machado das mãos daquele homem. A esposa vendo o perigo pediu ao marido que deixasse o estranho levar o machado. Com muito custo conseguiram fazer com que ele saísse da casa. Começaram a perceber então que o pobre homem tinha problemas mentais. Fechada a porta ainda se podia ouvi-lo dizer a mesma coisa: ”agora pode vir estou armado”. Passado alguns minutos escutaram o ranger e o bater da porteira, e assim ele se foi na escuridão da noite.

Depois de muitos anos, houve um incêndio na mata, depois da queimada dos pastos, como era costume naquela região. O Sr.: Alberto foi verificar o que o fogo tinha destruído e lá encontrou o machado, sem cabo, claro! Pois o fogo ou o tempo tinham tratado de destruí-lo.

A menina cresceu, casou-se e morava na cidade. Seu esposo era muito conhecido. Um dia convidou um velho amigo de seus pais a vir a sua casa e assim passaram o dia conversando e no meio dessa conversa seu amigo relatou várias histórias da sua vida, dizendo que havia sofrido sérias confusões mentais quando jovem, mas que havia se tratado e recuperado a sua saúde. Coisas do passado.

Contou como essa doença o havia aborrecido e que teve muitos constrangimentos em razão da mesma. Isabela ficou prestando atenção na conversa e de repente percebeu que uma das histórias ela conhecia uma parte. Aproximou-se e perguntou ao homem se ele lembrava o ano em que aquilo tinha se passado. Depois de confirmado o ano e várias outras coincidências, Isabela percebeu que aquele senhor já com avançada idade era o jovem que há muitos anos atrás esteve amedrontando sua família quando ela era apenas uma menina.

Pensou e concluiu, como sua mãe sempre dizia: “Nada que acontece na vida é por acaso, tudo tem a hora certa para acontecer e para ser revelado”.