Lua-de-mel

Minha tia Carmem é uma pessoa muito simpática, poucas vezes a vi triste ou aborrecida.Nos anos 50 ela conheceu um rapaz e começaram o namoro

Era um casal muito apaixonado, sempre juntos de mãos dadas, pareciam a fotografia da felicidade.Ambos com gênios muito bons, não havia discussão entre eles.

Os pais do rapaz arrumaram uma casinha no mesmo terreno em que moravam e prepararam tudo para o casamento.

Foi uma festa bem simples combinando com a simplicidade dos noivos.

Não houve viagem de lua-de-mel, e logo na semana seguinte após o casamento, o marido, agora meu tio, voltou ao seu trabalho numa marcenaria do outro lado da cidade.

Minha tia havia sido criada para as prendas domésticas e era o que ela sabia fazer.Arrumava a casa, cuidava de tudo com muito esmero.Todas as noites esperava o marido já com a mesa posta para o jantar, que era assim que a maioria das famílias viviam naquela época em que poucas mulheres trabalhavam fora de casa!

Tinha já se passado uns quinze dias do casamento, ela já habituada com o horário do marido chegar ,preparou o jantar bem em cima da hora da chegada dele, para que estivesse bem quentinho ao servi-lo.

Tudo parecia bem, o feijão bem temperado, a carne de panela que ele tanto gostava, a salada com bastante azeite e o arroz....chiii , o arroz!

Correu para a cozinha, mas qual o que, o cheiro do arroz queimado , já envolvia todo o ambiente.

Apagou o fogo e levou a panela até pia, e as lágrimas já lhe cobriam as faces.

Destampou e ficou desiludida, toda a beirada do arroz estava queimada,pegou depressa uma travessa e tentou salvar o pouco que não havia ficado grudado, mas não se continha em lagrimas.

Se sentia ainda uma menina com a qual a mãe com certeza iria zangar-se por causa da falta de atenção.Sem conhecer direito o marido, ficou a imaginar que ele também se zangaria.Começou a tomar-lhe uma aflição que a fazia chorar em soluços , pois sabia que não havia tempo de cozinhar outro arroz antes do marido chegar.

Enquanto se desesperava pensando nisso, chega o príncipe encantado, não! não era a fada madrinha, ou seja , era o marido.

Vendo-a debulhadas em lagrimas e desespero, ocorreu-lhe pensar que algo grave havia acontecido e tomou-se de cuidados.

-Carmem! O que aconteceu? Estás doente?Machucou-se?

Ela atirou-se ao pescoço dele soluçando, e não conseguia dizer palavra.

Depois de acalmá-la, dar-lhe água para beber, confortá-la, dizer para acalmar-se e contar o acontecido , ela finalmente entre soluços disse:

_De-de-dei-xei( snif!).....deixei quei....mar(snif) o arroz. Aí deu uma enorme assoada no nariz já no lenço que trazia.

O marido, entre o surpreso e a vontade de rir e a pena que sentiu dela por ver o quanto ela queria-lhe bem, pois frustrou-se por não poder recepcioná-lo como planejara .

Passou outro lenço pelo olhos dela , enxugando-lhe as lágrimas e disse:

_Querida, tem algumas coisas sobre mim, que você ainda não sabe!

Ela levantou a cabeça olhando-o nos olhos , muito curiosa e assustada!

-Diga o que é que eu não sei?

Ele abriu um tremendo sorriso, olhando-a com ternura, e largou maior mentira de sua vida.

_Eu adoro arroz queimado!Sou louco alucinado por um prato de arroz queimado!

Ela engoliu a mentira, abraçaram-se , beijaram-se , caminharam para à mesa e foram comer aquele arroz queimado bom de recém-casados

Como é doce a lua-de-mel !!!!!

Wanda Wenceslau