ALMA GEMEA - 2ºPARTE
— Ainda bem que você veio.
— Escada é sempre escada todo cuidado é pouco.
— Filosofia profunda, hoje! Não! Por favor, não me faça te lembrar com quantos absorventes se entope um cérebro.
— De jeito nenhum.
— Só estou cansada, irritada e...
Ele senta com Marcelinho ao seu lado no degrau e a abraça a olhando carinhosamente.
— Sabe do que me lembrei agora?
— Você vai se atrasar.
— Tenho tempo, você se lembra de como nos conhecemos?
— É claro!
Responde encostando a cabeça no ombro e ajeitando o Marcelinho.
— Dançando, tirei você pra dançar dos braços de seu namorado.
— Mas não foi mesmo.
— Como não foi?
— Agente deu o maior encontrão nas escadaria da faculdade.
E o Marcelinho se mexendo agoniado.
— Eu sempre me esqueço desse lance.
— É claro, não foi você que ficou cheio de hematomas.
E o Marcelinho...
— “Que desce mainha”.
— E sentamos nos degraus de tanto rir, e depois você me convidou para sair.
— Ainda bem que você topou.
E deu-lhe um beijo, ela olha para ele...
— Mas vamos embora, o Marcelinho quer descer.
— E eu tenho que trabalhar.
Fica em pé e a olha sério, e ela sente um arrepio a correr pela sua espinha, e instintivamente corre as mãos por seus braços e diz:
— Ta me olhando estranho, que chega a me dar um monte de arrepios.
— Amo você.
— Também te amo, que estranho, você me assustou.
— Essa é boa!
— Deixa para lá, vamos embora, essas declarações tem lugar e hora.
E quando já estão saindo do segundo lance de escada, uma lâmpada explode e ela solta um grito e se agacha agarrando o Marcelinho. E todas as lâmpadas começam a piscar, e um quadro de terror aparece na frente de Pedro, que surpreendido pelo inusitado, olha entre feixes de luz as pessoas que ama, chorando apavoradas, incrédulo não acredita no que esta acontecendo — É só uma lâmpada — pensou. E quando se aproxima rapidamente para acalma-los tropeça no velotrol, que cai escada abaixo fazendo um estardalhaço danado, que se agravou com a penumbra. E Marcelinho...
— Acende a “luiz”, paizão.
Pedro o abraça e...
— Calma foi só uma lâmpada que explodiu.
O acaricia junto ao peito enquanto olha para Ruthe e...
— Hei, tente se acalmar, vamos descer? Não foi nada demais é só uma lâmpada. Só falta mais dois lances de escada e rua.
Como estão na porta do apartamento do mezanino, Ruthe lhe pergunta se tem alguém em casa e ele lhe diz que não pois tinham viajado e ela:
— Justo hoje?
— Desde ontem.
E as lâmpadas piscam mais rápido e aumentam o brilho e ela:
— Vamos antes que piore essa droga.
— Relaxa, o Marcelinho ta muito mais tranqüilo que você, procure se acalmar. Achou a chave?
— Achei perto da bolsa, vamos logo?
E quando já estavam no quarto lance de escada todas as lâmpadas estouram e ela perde o equilíbrio de novo e cai escada abaixo, até a porta da rua, Pedro fica desesperado e desce rapidamente e ela senta no ultimo degrau em frente a porta e solta uma gargalhada estrepitosa e ele também se põe a rir e de novo senta ao seu lado. E a porta se abre e são os vizinhos do mezanino era o Luiz e a Márcia chegando de viagem, e quando os vêem rindo e sentados no degrau o Luiz.
— Se a piada é boa queremos saber.
— Eu só estou pedindo ela em casamento.
Olha bem serio para ela e:
— Amo você, você quer se casar comigo?
— Vou pensar.
E se beijam e Marcelinho:
— Beijinho bommm.
E Márcia...
— O negocio tá bom aqui heim.
— Começou com um tranco e uma queda na escada.
— Se machucaram?
— Por enquanto não, um dia nos contamos.
E Ruthe olha para os dois...
— Subam com cuidado, todas as lâmpadas pifaram.
E Pedro.
— Eu vou dar uma olhada quando voltar.
E Ruthe.
— Não precisa eu providencio agora, peço para o Chico “quebra galho” para resolver.
— Mas quando eu voltar trago lâmpadas de emergência.
E Márcia olha para o Luiz e depois para os dois.
— Nós rachamos essa despesa.
— Esta ótimo, mas agora eu tenho que ir.
Deu um beijo na Ruthe e no Marcelinho e se despediu de todos e foi embora. Ruthe assim que acertou com o “quebra galho” o concerto foi para a praça. O outono já cutucava o inverno e um certo ventinho frio corria entre as arvores, nada que causasse preocupação em Ruthe, que observava atentamente as brincadeiras de Marcelinho e de outras crianças num pequeno parque fechado com grades dentro da praça, e isso a deixava tranqüila e podia até mesmo fazer o que mais gostava ler e ao mexer em sua bolsa, a procura de algum livro encontra uma série de prospecto de viagens ao litoral.
Por instantes se vê em uma daquelas praias com Pedro e Marcelinho, e um sorriso emoldurou seu rosto quando se lembrou da sua trapalhada na escada — Que absurdo, esse cara é demais, tem horas que eu não sei aonde ele arranja tanta paciência, e ainda quer casar, comigo — pensou. E olhando para as fotos solta um suspiro e na mesma hora um vento gélido a faz se arrepiar e automaticamente se lembra do Pedro, olha para o relógio do celular e se apercebe que só se passaram alguns minutos que o tinha deixado no ônibus, estranhava as suas sensações e procurou com o olhar o Marcelinho e o viu brincando com as outras crianças e se tranqüilizou, — é o inverno chegando — pensou.
E enquanto isso uma ambulância driblava o transito velozmente para alcançar uma vitima baleada no centro da cidade. A habilidade nas peripécias do motorista deixava claro a urgência do resgate, dirigia por calçadas, canteiros, semáforos era o de menos, quando se viam em situações de bloqueios usavam alem da sirene a buzina e os para-médicos que iam correndo pela frente falando, berrando aos outros motoristas para que liberassem o caminho.
CONTINUA..........................