QUARTA FEIRA

Você chega cansado do trabalho, pega o controle remoto da TV e nem olha pro lado e cai sentado no meio do sofá. Solta um grunhido para avisar aos incautos, pobres mortais, que chegou o dono. Acha que ela é sua, afinal ela é sua mesmo saiu daquela merreca que você ganha por trabalhar tanto.

E começa aquela partida de futebol onde a zaga ganha por segundo se divertindo o que você se mata em um ano. É grana que você nem imagina como gastar. E você se remoe por dentro. E se satisfaz com sua teve comprada em prestações.

Não tem jeito. Vai que larga o controle dessa tortura pessoal no sofá e ela resolve torturá-lo por conta própria e muda o canal, o fazendo assistir aqueles caras que mais parecem seres extra-terrestres de tão bonitos que são, com aqueles lindos olhos coloridos. E quando aparecem aquelas gostosonas em trajes mínimos, ostentando aqueles melões siliconados no decote, que te fazem babar. E você olha. Ai você é um grosso insensível correndo serio risco do jantar ser na cozinha. Pão com ovo frito.

É, meu amigo, seu dever é agüentar mudo, surdo, cego e ver as intermináveis ligações fúteis via celular para algum lugar do outro lado do oceano, nas eternas novelas globalizadas. E se eles não estiverem satisfeitos, no seu bla-bla, embarcam sem frescura em vôos internacionais. Que obrigação! Justo você que não sabe nem mesmo o que fazer para evitar, de nas férias, aquentar a sogra.

Se a cena rola a beira de uma piscina ou uma praia paradisíaca. Ai, meu caro, só te resta ouvir suspiros e gritinhos safadinhos. Eles estão lá exibindo o resultado anabolizante. Fazer o que? Bufa, arrota, solta um pum e grunhe alguma coisa ininteligível, e pega novamente o controle da situação (tortura) e volta para saber como se ganha milhões, se divertindo com uma bola.

Não fique triste porque se acha um burro. Isso é normal. Afinal não foi você que abandonou a bola para estudar. Foi obrigado.

Fica naquele, maçante, zero a zero, sob protesto, delas, é claro. E resmunga baixinho: – faço muito melhor. E quando ouve: - que pernas! Ai é de mais. Você encara os seus joelhos logo após o fim da farta barriga e pensa enquanto coça o umbigo: - se tivessem essa porra de vida, queria só ver. Trabalho feito um escravo.

E ouve aquela pergunta vestida de carinho: - o bem! Pra quem? E você rosna novamente alguma coisa que parece café e a fita exigindo pressa. Vê-la sumir, nessas horas, dá um prazer danado.

É quarta feira e não da pra assistir o jogo todo. Amanhã é outro dia de buzão e no mais zero a zero ninguém merece. Render ao cansaço é o melhor. Se querem, fiquem. Nada melhor que um banho quente e cama. Afinal ainda tem quinta feira.

28/08/09 12:13