DÊ-ME O QUE TENS DE MIM OU PARA PENSAR QUE SOU FELIZ

A insônia sempre presente nos momentos em que a palpitação se acelera, resultante do distúrbio provocado por algo que nenhum especialista poderá descobrir e não tenho intenção de oferecer o mérito do que é raro em mim para vangloriá-lo com teses mal feitas, voltou-me no momento em que me disseram sentir. Sentia a outra, não eu! Nem me influenciei com a elegância dos notívagos.

Não marcarei consulta.

Ela não sabe que não durmo. Seu telefonema insistente eu recuso. A máquina toca a noite toda, indicativa de que não sonho com a insônia.

Olho para a porta. Não, ela não bate!

Abro um livro.

Com o livro não durmo, tampouco me interessam as palavras. Ignoro os desenhos que se formam. Piso nas formigas que devoram a pizza abandonada na mesa descrita no livro.

De súbito, apalpo os bolsos. Falta-me algo.

Na mesa estão o celular e os medicamentos que me receitei. Cartelas cheias e remédios descartados no ato da ingestão. O vômito no chão permanece ali, não evaporou como, horas atrás ao apreciá-lo, imaginei que fosse ocorrer.

O telefone persiste.

As faixas verticais coloridas da televisão não me entretêm como faziam no início da semana; início de meus presságios.

Passei a ter vislumbres das coisas que me aconteceriam no dia seguinte. No primeiro dia soube que nos posteriores, indeterminados no término, eu não dormiria. No segundo, descobri que neste atenderia ao telefone.

Puxei o fone do gancho.

Recitou-me a descoberta que fizera: metricamente os componentes da medicação rimavam e compunham uma música. Cantou a música. Concordei ao comprovar na bula da referida medicação, que realmente a erudição fora condensada naquele encarte.

— Decifrei tudo!— ela me disse. — Diz que te amo e que novela nenhuma é tão romântica quanto às provas que tens me dado!

Referia-se a concordância, que eu não sabia ter havido, em não dormir.

— Aguentou firme! Mas eu te traí. Todos estes dias eu dormi. Não me pergunte a razão; sou louca e você sabia! Não me culpe. Falo como se deixasse uma mensagem? Bobagem sua! Agora você pode dormir!

Antes da ordem, o telefone já caíra dos ouvidos, já adormecera com o gosto excessivo da música erudita que engoli.