O HOMEM DE TERNO

Era uma típica manhã de inverno, o dia estava cinza e frio e eu, caminhava para mais um dia na faculdade. Andava por exatos quinze minutos até chegar ao terminal e pegar o ônibus.

Todos os dias eram iguais, entrava no ônibus, dava bom dia para o motorista e cobrador que nem sempre respondiam e sentava na janela de uma poltrona dupla ao lado esquerdo, a qual tinha fácil acesso a porta. Lembro-me de ficar consideravelmente estressada quando alguém sentava lá antes de mim, era como se aquele lugar me pertencesse e aquele simples acontecimento mudava todo o resto do meu dia.

Eu raramente me atrasava, mas naquele dia me atrasei.

Por algum motivo meu celular não despertou e quando acordei já estava meia hora atrasada.

Quando finalmente cheguei no terminal, fiquei desapontada por perceber que pegaria um ônibus diferente, com um motorista diferente, um cobrador diferente e passageiros diferentes. Acho interessante o fato de ver as mesmas pessoas todos os dias, é como se elas passassem a fazer parte da minha vida de alguma forma. Dá até uma estranha vontade de cumprimentar a todos, dar bom dia, perguntar como estão as coisas, eu sei, isso pode parecer bem estranho, mas é como me sinto.

Me sentindo meio deslocada por não estar entre “meus colegas de viagem”, escolhi um lugar parecido com o qual eu costumava me sentar e lá fiquei.

Com o trânsito e tudo o mais, eu sabia que ficaria por pelo menos 1 hora sentada lá, então quando estava quase pegando no sono, uma senhora bem vestida pediu licença e sentou-se ao meu lado. Fiquei imaginando mil coisas a respeito daquela mulher. O que ela fazia, aonde morava, para onde estava indo e porque estava indo. Disfarçadamente fui prestando a atenção em cada detalhe de seu comportamento. Ela parecia inquieta, apressada, talvez estivesse atrasada como eu.

Me sentindo mal por estar tanto tempo em um lugar fechado, fiquei desapontada com a tentativa inútil de abrir a janela mas me distraí com a senhora se levantando para finalmente descer.

Quando olhei para a porta, um homem estava a entrar no ônibus.

Ele era moreno, alto e usava um terno cinza. Seus olhos eram misteriosos e atentos. Era como se ele estivesse pensando cem coisas por segundo.

Na medida em que ele se aproximava, meu coração batia mais rápido e eu fui perdendo o fôlego lentamente. Então, para o meu total espanto ele se sentou ao meu lado.

Ele estava com fones de ouvido, então comecei a imaginar o tipo de música que aquele homem ouvia. De repente fui ficando com calor e pensei em abrir o vidro, mas lembrei-me da tentativa frustrada então pedi pra que ele abrisse.

- Está bom assim? Perguntou ele levantando-se e abrindo o vidro.

- Está ótimo, obrigada. Respondi.

Aquele frio na barriga que senti quando ele foi se aproximando ainda não tinha passado. Pensei em puxar assunto, falar sobre qualquer coisa, sobre os prédios, a rua, o trânsito, mas perdi a fala.

Estar ali ao lado dele, sentindo aquele mar de emoções foi tão indescritível quanto maravilhoso.

Já estava quase chegando em meu destino e eu não pensava em nada para dizer.

Então ele se levantou e foi embora sem olhar para trás.

Ali eu fiquei, sem saber se o veria de novo, quando ou como. Perdi a minha única oportunidade de falar com ele, mas nós compartilhamos um momento que jamais esquecerei.

Fernanda Cheschini
Enviado por Fernanda Cheschini em 26/08/2009
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