MEU AFILHADO CIRO = EC

Quando nossos amigos Cássio e Léa nos convidaram para batizar o pequeno Ciro, meu marido e eu ficamos muito honrados.

Era nosso primeiro afilhado e Cássio e Léa eram amigos muito queridos.

Durante sua primeira infância estivemos muito presentes na vida de Ciro, mas, depois a família mudou-se para outra cidade e nos distanciamos.

Nunca mais o vi e só tive noticias dele através das cartas que trocávamos, a Comadre e eu.

Durante muitos anos acompanhei de longe o seu crescimento.

Lea falava do filho muito orgulho:

- É o primeiro aluno na escola...

- Ganha todos os campeonatos...

- É muito popular no meio dos jovens...

- Está formado... Bem colocado... Fazendo muito sucesso...

- É um menino de ouro!

Essas notícias me deixavam muito feliz, pois amava Ciro como se fosse meu próprio filho, mas, depois que a mãe faleceu, nunca mais soube nada dele.

Alguns anos depois, para minha surpresa, recebi uma carta sua.

Uma longa carta onde falava de si, de sua família e, sobretudo de suas conquistas, de seu progresso profissional, etc.

Terminava dizendo que estava saindo candidato a Deputado Federal e que, sabendo que eu era muito bem relacionada, pedia que desse uma mãozinha na nossa região.

Eu não gosto de política, mas me entusiasmei com a pretensão do meu afilhado e me dispus a fazer tudo o que fosse possível para conseguir muitos votos para ele. Afinal, o Brasil estava tão carente de bons políticos!

Eu tinha bons relacionamentos na minha cidade e em toda a adjacência. Era muito conhecida, pois passara toda minha vida naquela região, freqüentava a sociedade, participava de grupos beneficentes e conservava boas amizades de longa data.

Fiz toda a propaganda que foi possível. Distribuí “santinhos”, panfletos, quebra-cabeças, coloquei faixas na fachada de minha casa, mandei pintar o muro com apelativas frases de efeito.

Na conversa com amigos sempre exaltava e até exagerava as qualidades do meu candidato, sobretudo a sua honradez e honestidade das quais eu não tínhamos a menor dúvida.

Ciro foi eleito e eu comemorei a vitória com os amigos em clima de muita alegria.

Mas, algum tempo depois, houve um escândalo, um roubo de milhões e o Ciro foi acusado.

Com isso toda sua vida pregressa veio à tona e eu descobri com tristeza que aquele bebê que leváramos à Pia Batismal com tanta emoção, que acompanhamos os primeiros passos e até trocamos as fraldas, de quem os pais tanto se orgulhavam. estava muito longe ser o homem incorrupto que eu imaginava.

Ciro foi preso (naquele tempo político corrupto era preso) e eu tive que ouvir os comentários desairosos a seu respeito.

Meus amigos, educadamente, evitavam o assunto na minha presença, mas eu me sentia envergonhada como se, de certo modo, fosse conivente com a sua corrupção.

Mas, poxa! Eu juro que não sabia!

Este texto faz parte do Exercício Criativo “Juro que Eu Não Sabia”

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Maith
Enviado por Maith em 24/08/2009
Reeditado em 24/08/2009
Código do texto: T1771546