Frank Cole
Frank Cole era mais uma face anônima na multidão. Em meio a tantos e tantos que transitavam pela movimentada rua, era apenas mais um. Face cansada, olhar cheio de angústias, sedento por um drink, esse era Frank Cole...
Tinha na alma algo um tanto noir. Em suas angústias em branco e preto, Frank colecionava longos suspiros de cansaço. Visitavam-no, todas as noites, a angústia e o medo da incerteza. Como seria bom firmar-se no certo, esquecer os medos, tocar a vida sem temer o amanhã! Mas isso seria demais para Frank Cole... Em seu olhar, sobressaía um apelo quase infantil em busca da vida aconchegante que tivera na infância. Que bons tempos aqueles, em que o colo não lhe faltava e a angústia nem sonhava em existir.
Mas já fazia um bom tempo que a realidade nua e crua se revelara a Frank. Em verdade, ele sempre julgara conhecê-la bem e até que, por algum tempo, conseguira enganar a si mesmo com a idéia de que sempre saberia como agir. Sim, pois Frank era desses tolos que ainda acreditavam nessa história de "bom senso"-- e o pior é que ele sempre julgara tê-lo! Em verdade, seu senso era apurado demais, mas estava muito longe de ser bom...
Frank era sensível e, por isso mesmo, compreendia com perfeição o que passava à sua volta... Apenas não sabia muito bem como agir perante o frio mundo dos fatos. Por que tudo tinha de ser tão objetivo? Por que tudo tinha de girar sempre em torno dos tais fatos?
Frank Cole não gostava muito de fatos. Desde pequeno, sempre gostara mais das idéias. Passara boa parte de sua juventude um tanto platônica devorando romances de Agatha Christie e ouvindo canções românticas. E, assim, fora, aos poucos, construindo seu tão requintado quanto intrincado universo particular: um universo de idéias, onde as pessoas eram sensíveis e agiam glamourosamente, como em cenas de filmes antigos... Apaixonado que era por esse mítico universo, doía-lhe muito regressar à realidade após seus devaneios.
Quando caía em si e encontrava-se, novamente, estatelado no gélido mundo real, sentia vontade de aquecer-se com um drink e de dizer algo belo e poético: algo que fosse capaz de tornar a realidade ligeiramente mais bela. Mas ninguém lhe dava muito espaço: cobravam-lhe apenas fatos e objetividade e ele, com sua prodigiosa mente idealista, levava, frustrado, o copo à boca... E, enquanto bebia, escutava silenciosamente o som de sua própria e ofegante respiração.
Cheio de angústias -- mas quem não as tem? Idealista -- um pecado para os amantes dos fatos. Por fim, humano. Sim, apenas humano: por debaixo do terno quase sempre escuro, um coração... Esse era Frank Cole...