O Conterrâneo
O Leblon é agradável.
Suas poucas ruas abrigam pessoas conhecidas, com atitudes rotineiras, tudo lembrando uma pequena cidade do interior. Morando na Paraíba, anualmente lá passo minhas férias, sempre acolhido pela querida Lili – tia de minha mulher.
Na última vez, fui do aeroporto, ainda com malas e bagagens, direto ao Le Coin, pequeno e tradicional restaurante do bairro.
Maravilhado pelos quentíssimos pastéis e insuflado pelos repetidos uísques, não tardei em dispensar Tia Lili. Disse-lhe, vaidoso, que conhecia a cidade, estava lúcido e não teria problemas de chegar ao seu apartamento. O maitre Moacir, amigo de longas jornadas, saiu em minha defesa, convencendo a anfitriã cuidadosa a deixar-me ficar. Na mesa ao lado duas provectas senhoras tomavam chopp e davam risadas estridentes. Quando dei por mim, a madrugada já chegara. Paguei a conta e, imprevidente, rumei pela Carlos Góis. De repente, entre as árvores enegrecidas, surgiu um homem baixo, raquítico, encerado, com uma faca não mão:
- Dinheiro, passa o dinheiro!
Ao ver a faca-peixeira, incontinenti, indaguei:
- Você parece que é da Paraíba como eu sou?
- Sou, respondeu-me o ladrão, surpreendentemente!
- De onde? Perguntei procurando cumplicidade...
- De lugar de cabra brabo!
- De Catolé do Rocha?
- Não, de Patos.
- Patos é lá terra de gente braba, redargui já cheio de razão: Patos é terra de Edvaldo Mota, Zé Cavalcanti, Dona Geralda, etc. Matreiramente, citei um rosário de políticos populistas... O ladrão caiu num choro convulsivo, dizendo que realmente eu conhecia sua terra. Confidenciou-me que era vendedor de rede, praticara ilicitudes, mas já pagara sua pena. Confesso que eu é que fiquei com pena dele. Meti a mão no bolso e lhe dei os vinte reais que me restavam. Agradeceu-me comovidamente. Logo adiante, na guarita da Selva de Pedra, um guarda indagou-me se aquele transeunte estava importunando. Não, não - respondi resoluto: é um velho conterrâneo que fazia tempo que eu tinha visto...