A princesa
A Princesa
Marcava o horário do banho e, como um profissional da espionagem, fazia a varredura do ambiente, seguindo pelo corredor lateral amplo, onde, muitas vezes, aterrissavam seus aviões; olhava a janela alta e estreita, dando passagem apenas a um corpo magro. Movido pelos hormônios já estimulados pelo barulho da água da banheira; subia à janela e tinha a visão por inteiro da princesa em todo seu esplendor; corpo estendido dentro da banheira, olhando com um olhar lascivo - ou brejeiro? Era o convite que faltava; o corpo mergulhava pela janela, que era transposta de cabeça para baixo, confiando na força dos punhos para amortecer a queda. Ficavam mergulhados naquela água morna e acariciante; de repente, levantava-se e a erguia no colo, interpretando corretamente uma cena de náufragos; fazia-lhe uma respiração boca a boca, com os corpos colados, prolongando o jogo erótico, até que de dentro da casa reclamavam estar a princesa demorando no banho; era o sinal de que o colóquio terminara; voltava pela janela, já sem temer qualquer risco, em passos apressados, deixando desfazer-se lentamente a emoção, aguardando com ansiedade o próximo naufrágio.