A gravidez

Em frente ao espelho, enquanto sombreava os olhos e corava as maças do rosto, seu corpo estremecia quase que por completo. Não sabia ao certo o que a aguardava, toda a sua vida dependia agora de uma palavra num papel lacrado. Alguns minutos apenas, alguns minutos, e ela saberia.

Sim! Uma produção independente, parcialmente independente, mas totalmente produzida.

Aquele nada saberia e de nada adiantaria saber, ela pensava. Explicaria tudo à criança em qualquer manhã de outono e tudo estaria resolvido, ela se enganava.

Pensava em tantas possibilidades, em todas as possíveis consequências de criar um filho sem pai - a conclusão nenhuma chegava. Um dia, quem sabe, tudo ao tal pai contaria, mas agora não era o momento de pensar.

"Positivo"! lá estava no papel lacrado sua senteça, o veredicto, o seu destino, o seu futuro, e mais, e além: o seu começo! Agora tudo seria novo, para quase nada teria tempo. Como era independente, viajaria mundo afora, sem rumo, assentaria todas as coisas para depois voltar com a criança nos braços ou até andando, quem sabe!(?)

Estava grávida em frente ao espelho, um outro espelho, não havia dúvida, nem mais tristezas. Sem incertezas pegou suas malas, entrou no táxi, depois no avião. Foi de encontro ao mundo, trazer realidade a tudo o que sempre foi sonho seu.

Criaria a criança longe de todos, sendo egoísta, agarrando com força seus ideiais, pensava ter toda a razão. Deixou família, estudo, trabalho, amigos, toda a sua vida já construída e viveria todo o orgulho de ser pai-mãe.

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 16/08/2009
Reeditado em 16/08/2009
Código do texto: T1757301
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