O Homem Que Cuidava das avezinhas
O homem que cuidava dos pássaros está em um hospital público,não andar psiquiátrico.É professor, poeta, cronista, em qualquer ordem.Até noutro dia, cuidava de pássaros que caíam feridos num comitê político onde ia todas as tardes, escrever textos para ganhar uns míseros trocados do candidato a alguma coisa, por certo, não a cuidador do povo.
Esse homem que respira seu próprio prana de poesia pura, estava endividado.Tomava dinheiro emprestado, a juros, daqui, para pagar ali.Na verdade, queria saldar a dívida com seu editor.Escreveu suas experiências sobre estudante que foi preso-embora não torturado-na Ditadura Militar.Era o ano de 2004,dirão mais tarde e fazia quarenta anos que o golpe militar acontecera.
Depois da noite de autógrafos, saía diariamente com sua pesada pasta e ia tentar vender seus livros.
Muitas vezes, gastava mais que se tivesse ficado em casa:era preciso requiaitr uma mesa onde se encontrasse, pedir uma cerveja ao menos e voltar para casa de táxi.
O homem que gostava de pássaros, chegou a cuidar de um beija-flor.Um dia chegou e a pequena ave havia se recuperado o suficiente para ir embora.Estava acostumado a registros de perda. Apenas pegou uma cadernetinha surrada em sua mente brilhante e anotou mais uma.
A bem-amada,também gostava de pássaros e estava criando um pardal, avezinha da rua que não quer saber de aproximações.mas caíra em seu oitão ainda implume e acabara por aceitar os cuidados.Depois de crescidinho, ficou meio estragado:não andava em bandos, chegava sozinho à procura de pão.E entrava em casa, para acordá-la cedinho, indignado porque ela dormia até mais tarde...Ela havia pendurado um bebedouro desses de flores de plástico.Lavava-o bem e trocava a água, para evitar fungos que fizessem mal ao beija-flor vindo de uma árvore em frente.
O homem que cuidava de pássaros andou meio enciumado,querendo até virar beija-flor, até que ela, meiga/mente, lhe disse que colocara no bichinho o nome dele.Viu naquilo o desejo oculto de cuidar dele, o homem, o que por ora era impossível...
A bem-amada ia viajar e ele sentiu-se sem chão.Se fosse ave, poderia voar, mas não!Então começou a tomar Lexotan, esse remédio enganador, com pinga pura.Queria, com isso, que todos acabassem por saber aquilo que não andava a revelar:que devia muito.Contou a ela , por telefone,que ficara muito humilhado ao tentar tomar novos empréstimos e iam lhe mostrando,na telinha do computador, que ele(ainda)devia aqui e ali...
Ela tentava animá-lo:Hoje, todos que são inadimplentes,não precisam se envergonhar.A culpa é do governo...
O homem que sabia como ninguém cuidar de passarinhos, havia votado nesse Governo e a decepção agravava sua saúde mental.
Ao receber recados de que a mistura fatal-Pinga&lexotan –estava acontecendo , lixando seu esôfago, destruindo o ácido estomacal,obnubilando sua mente embora nunca embotando sua sensibilidade,a amada, sentindo-se agora mal-amada, quando viu que o amor não valia tanto assim nesses casos, avisou-o:”Pare, senão vc vai ficar de língua de fora”.
Ele queria morrer e a conquistara com a vida de seus olhos e a mágica de seu sorriso...Como ela conviveria com esse contraste, alguém riri um riso tão risonho e em dado momento, procurar o auto-extermínio?
O homem que sabia dar vida a pássaros doentes, não sabe voar, não sabe como sarar porque não morreu e as dívidas continuam.Professor, poeta, cronista, contista, fez da palavra uma bandeira,mas suas palavras literárias não conseguem pagar suas dívidas ou convencer quem quer que seja a lhe emprestar dinheiro para viver com dignidade.
O Governo lhe deve uma idenização pelas experiências durante a Ditadura.Ele tomou as primeiras providências.Pensa nelas enquanto está internado.Entre agudos e crônicos, todos doentes brasileiros que devem algo a alguém.Os donos do Poder terão conhecimento disso?
Um contista, cronista, diretor de revista literária, cronista, articulista, namorante,poeta-em qualquer ordem-está nesse minuto internado em um hospital público.Na ala de psiquiatria.Junto a outros inadimplentes.Faz parte dos que não resistem a pressões de dívidas monetárias.Só o Brasil resiste, capengando.Alguns homens, não.
Sentado na cama ou andando aqui e ali, o homem que nunca deixou as avezinhas sem ajuda, acende seus olhinhos ornitólogos e se alegra:há muito material importante ali, para escrever.Quando sair da internação, já que não lhe autorizaram portar lápis ou caneta, passíveis de se transformarem em armas de auto-extermínio...Um escriba sem suas ferramentas!
Isso enche de esperança o coração da mal-bem-amada, quando fala com ele ao telefone.Se ele reunir interesse suficiente para escrever um livro novo, talvez a Vida lhe estenda os braços.E ele volte a salvar bichinhos alados.Então, no ninho desse coração orvalhado, quebram-se dois ovos.De dentro para fora, e as avezitas começam a piar chamando o homem. Para cuidá-las...
Clevane Pessoa 16/11/2004
Belo Horizonte-MG Brasil
Conto selecionado pelo site DOMIST,no Concurso de Pequenos Contos(maio/2005),para ser traduzido para o italiano.
O homem que cuidava dos pássaros está em um hospital público,não andar psiquiátrico.É professor, poeta, cronista, em qualquer ordem.Até noutro dia, cuidava de pássaros que caíam feridos num comitê político onde ia todas as tardes, escrever textos para ganhar uns míseros trocados do candidato a alguma coisa, por certo, não a cuidador do povo.
Esse homem que respira seu próprio prana de poesia pura, estava endividado.Tomava dinheiro emprestado, a juros, daqui, para pagar ali.Na verdade, queria saldar a dívida com seu editor.Escreveu suas experiências sobre estudante que foi preso-embora não torturado-na Ditadura Militar.Era o ano de 2004,dirão mais tarde e fazia quarenta anos que o golpe militar acontecera.
Depois da noite de autógrafos, saía diariamente com sua pesada pasta e ia tentar vender seus livros.
Muitas vezes, gastava mais que se tivesse ficado em casa:era preciso requiaitr uma mesa onde se encontrasse, pedir uma cerveja ao menos e voltar para casa de táxi.
O homem que gostava de pássaros, chegou a cuidar de um beija-flor.Um dia chegou e a pequena ave havia se recuperado o suficiente para ir embora.Estava acostumado a registros de perda. Apenas pegou uma cadernetinha surrada em sua mente brilhante e anotou mais uma.
A bem-amada,também gostava de pássaros e estava criando um pardal, avezinha da rua que não quer saber de aproximações.mas caíra em seu oitão ainda implume e acabara por aceitar os cuidados.Depois de crescidinho, ficou meio estragado:não andava em bandos, chegava sozinho à procura de pão.E entrava em casa, para acordá-la cedinho, indignado porque ela dormia até mais tarde...Ela havia pendurado um bebedouro desses de flores de plástico.Lavava-o bem e trocava a água, para evitar fungos que fizessem mal ao beija-flor vindo de uma árvore em frente.
O homem que cuidava de pássaros andou meio enciumado,querendo até virar beija-flor, até que ela, meiga/mente, lhe disse que colocara no bichinho o nome dele.Viu naquilo o desejo oculto de cuidar dele, o homem, o que por ora era impossível...
A bem-amada ia viajar e ele sentiu-se sem chão.Se fosse ave, poderia voar, mas não!Então começou a tomar Lexotan, esse remédio enganador, com pinga pura.Queria, com isso, que todos acabassem por saber aquilo que não andava a revelar:que devia muito.Contou a ela , por telefone,que ficara muito humilhado ao tentar tomar novos empréstimos e iam lhe mostrando,na telinha do computador, que ele(ainda)devia aqui e ali...
Ela tentava animá-lo:Hoje, todos que são inadimplentes,não precisam se envergonhar.A culpa é do governo...
O homem que sabia como ninguém cuidar de passarinhos, havia votado nesse Governo e a decepção agravava sua saúde mental.
Ao receber recados de que a mistura fatal-Pinga&lexotan –estava acontecendo , lixando seu esôfago, destruindo o ácido estomacal,obnubilando sua mente embora nunca embotando sua sensibilidade,a amada, sentindo-se agora mal-amada, quando viu que o amor não valia tanto assim nesses casos, avisou-o:”Pare, senão vc vai ficar de língua de fora”.
Ele queria morrer e a conquistara com a vida de seus olhos e a mágica de seu sorriso...Como ela conviveria com esse contraste, alguém riri um riso tão risonho e em dado momento, procurar o auto-extermínio?
O homem que sabia dar vida a pássaros doentes, não sabe voar, não sabe como sarar porque não morreu e as dívidas continuam.Professor, poeta, cronista, contista, fez da palavra uma bandeira,mas suas palavras literárias não conseguem pagar suas dívidas ou convencer quem quer que seja a lhe emprestar dinheiro para viver com dignidade.
O Governo lhe deve uma idenização pelas experiências durante a Ditadura.Ele tomou as primeiras providências.Pensa nelas enquanto está internado.Entre agudos e crônicos, todos doentes brasileiros que devem algo a alguém.Os donos do Poder terão conhecimento disso?
Um contista, cronista, diretor de revista literária, cronista, articulista, namorante,poeta-em qualquer ordem-está nesse minuto internado em um hospital público.Na ala de psiquiatria.Junto a outros inadimplentes.Faz parte dos que não resistem a pressões de dívidas monetárias.Só o Brasil resiste, capengando.Alguns homens, não.
Sentado na cama ou andando aqui e ali, o homem que nunca deixou as avezinhas sem ajuda, acende seus olhinhos ornitólogos e se alegra:há muito material importante ali, para escrever.Quando sair da internação, já que não lhe autorizaram portar lápis ou caneta, passíveis de se transformarem em armas de auto-extermínio...Um escriba sem suas ferramentas!
Isso enche de esperança o coração da mal-bem-amada, quando fala com ele ao telefone.Se ele reunir interesse suficiente para escrever um livro novo, talvez a Vida lhe estenda os braços.E ele volte a salvar bichinhos alados.Então, no ninho desse coração orvalhado, quebram-se dois ovos.De dentro para fora, e as avezitas começam a piar chamando o homem. Para cuidá-las...
Clevane Pessoa 16/11/2004
Belo Horizonte-MG Brasil
Conto selecionado pelo site DOMIST,no Concurso de Pequenos Contos(maio/2005),para ser traduzido para o italiano.