Era uma vez no seringal
Transcorria o ano de 1942. No Alto Rio Madeira, próximo à Cachoeira do Giráu, no Território Federal de Rondônia, o canoeiro remando, arfava em razão do esforço despendido. O dia estava amanhecendo e ele remava desde o Por-do-Sol. Vinha conseguindo manter o ritmo das remadas, duas remadas na esquerda, duas remadas na direita. Dera sorte em ter conseguido uma canoa pequena, uma “montaria” (1), um “casquinho” (2). Canoa leve rendia na viagem, duas remadas vigorosas equivalia a quase quatro metros na correnteza a favor.
Apressado, passara no tapiri (3), juntara o que pudera, pegara um pedaço de charque, uma cuia de farinha, um pouco de sal e uma latinha de conserva cheia de piracuí (4); uma garrafa de cachaça quase pela metade, para espantar o frio; a espingarda, três ou quatro cartuchos, o facão e mais nada, jogara tudo dentro do jamaxim (5) e sumira na mata; ainda bem que carregava sempre consigo a bolsa de fumo e a binga.
Dois dias e uma noite escondido no meio do chavascal (6) vendo os capangas do seringal chefiados pelo coronel de barranco, o seringalista, seu patrão, escorrendo baba pelos cantos da boca e os olhos injetados de sangue. Se o tivessem pegado, com certeza teria virado picadinho. Teriam feito um sarapatel (7) com o couro dele.
Já estava ficando com o pescoço dolorido de tanto olhar para trás. Até agora não vira nem sombra dos perseguidores.
Na primeira oportunidade que tivera no início da noite do segundo dia conseguira se aproximar do trapiche (8) e roubara a montaria. Tivera que fazer um esforço sobre humano para arrebentar a corrente sem fazer muito barulho. Soltara o casquinho na correnteza e fora nadando, de bubuia (9), ao lado da pequena canoa. Tivera o cuidado de cobrir a canoa com galhos e folhas e depois amarrara várias ramas de aguapés ao redor da canoinha. Transformara o “casquinho” num balseiro (10), quem sabe não daria para enganar eventuais vigias? Não lembrava o tempo em que tivera que nadar. O que lembrava é que somente tivera coragem de subir na pequena embarcação quando a barra da manhã anunciou o nascer do dia. Quase morreu de frio. Vôte!
Tudo acontecera muito rápido. Ele fora convidado para tocar na amigação de Tonico e Zefinha. No seringal ninguém casava, se amigava, passava a viver junto. Botava um chinelo em riba do outro. Quando Deus se lembrava daqueles ermos mandava um padre. Acontecia de passar anos sem aparecer um.
Tudo tinha começado que era uma beleza. Ele era conhecido como Chico da Sanfona. Nas festas juninas de alguns anos anteriores tinha ficado compadre de dois outros seringueiros e músicos. Um, era tocador de zabumba e o outro era tocador de triângulo e pandeiro. Passaram a tocar juntos nas festas dos seringais. Ficaram conhecidos como “Os Três do Xote”. Ganhavam até um bom dinheirinho. Quem não estava disposto a pagar uns trocados para sacolejar o esqueleto e esquecer as agruras da difícil vida que levavam? Não era fácil a vida de seringueiro. Levanta às duas da manhã e tome a cortar pau (11) e fincar tigela. E o cuidado com cobra, onça e índio brabo? Depois retorna pelo mesmo caminho colhendo as tigelas com o leite, o látex, e depois que chega ao tapiri tome a tocar fogo no ouricuri (12) para defumar o leite e fazer as pelotas. A luta só acabava lá pelas dez ou onze da manhã. Faz almoço, sai para caçar alguma coisa ou vai ao rio pescar, cuida da pequena roça e o dia foi embora. É procurar a rede e dormir junto com os papagaios. Todo dia era a mesma coisa, entra ano, sai ano. Vôte! Arre égua!
Pois é, tudo tinha começado que era uma maravilha. A poeira levantada pelos pés ligeiros na dança do xaxado e do xote transformava os dançarinos em vultos fantasmagóricos sob a luz difusa dos lampiões a querosene. A festa no terreiro estava animada. Ô bate-coxa da mulesta!
Numa das pausas ele ficara debaixo de um pé de jaqueira tomando um dedo de pinga e fumando um cigarrinho de palha. Surgindo do nada apareceu uma morena muito jeitosa. Pelo contorno do vestido, era dona de umas coxas roliças, rijas, seios médios muito empinados. E a boca? A boca fazia qualquer vivente perder o juízo. E ele perdera. Perdera o juízo, a cabeça, e, até agora, estava quase perdendo a vida. Ele disse boa-noite. Assim... Assim por dizer. Os homens sempre devem ser atenciosos com as mulheres. Não custa nada ser gentil, educado. Nunca se sabe. No seringal a gente sempre está precisando de alguém. Quem é gentil com as pessoas normalmente vive bem.
Ele olhou diretamente nos olhos da moça e com uma das mãos com o dedo indicador e médio estendidos tocou a aba do chapéu e saiu em busca dos companheiros para continuar a festa. O intervalo tinha acabado.
Do alto do pequeno tablado de onde tocava ele sorria, ensaiava alguns passos de dança e olhava para todos e não olhava para ninguém em particular. De repente ele a viu. Ela estava lá, parada, escorada num mamoeiro. Sempre olhando fixamente para ele. De vez em quanto dançava com um ou outro, mas sempre voltava para o mesmo lugar. E ficava olhando para ele. Os olhos de jabuticaba indo e vindo dos pés à cabeça, da cabeça aos pés.
Vixe Maria! Fica olhando pra gente como se o sujeito estivesse nuzinho em pelo.
No segundo intervalo ela se aproximou dele. Puxou conversa, disse que morava em outro seringal desde pequena. Disse que havia chegado à tarde daquele dia. Tinha vindo para casar com o dono do seringal, “Seu” Argemiro Troncoso. Tinha sido prometida pelo pai dela. Disse também que somente naquele dia tinha conhecido o noivo. Disse que ele era tão velho, barrigudo... E a careca? A careca sempre suada. Fazer o quê, né? Falou que o casamento ia fazer muito bem para a família dela, pelo menos era o que o pai dizia.
Ele ficou sem entender. O quê é que ele tinha a ver com o casamento do patrão com aquele pitéu, pensou.
Sorrindo, ficou olhando a moça e murmurou entre dentes. “Velhote de sorte”
“O senhor falou o quê?”
“Nada não! ‘Tava pensando alto”
De repente, do nada, ela falou:
“O moço é tão bonito! Tem os dentes tão brancos... E toca que é uma beleza”
Depois as coisas aconteceram na velocidade de um “repiquete” (13). Ele voltou para a festa e continuou tocando até o final. Ainda ficou perambulando pelo terreiro e tomou um mata-bicho com os companheiros, jogou conversa fora durante um tempo se despediu e foi amarrar a rede nos fundos do terreiro, debaixo de um abacateiro, fumou um cigarrinho de palha e dormiu.
Acordou com o estrupício da noiva do velhote deitada ao lado dele, nuinha em pelo. Os peitos da dita cuja, e que peitos, grudados no peito dele.
E aí, seu moço? Fazer o quê? Bota a mulher pra fora rede...? Mas nem debaixo de pau...!
Pense num cabra que nunca foi “xibungo” (14), que sempre foi doido por mulher, e aí aparece, no meio da madrugada, uma Iara (15) daquelas, nuinha do jeito que o diabo gosta, e ainda por cima deitada por riba do vivente. Olha... “Seu” Argemiro que me desculpe. Não tem jeito de guardar respeito, não. De jeito nenhum...
Acordou com os primeiros raios do sol batendo na cara. Fazia tempo, muito tempo que não dormia tão bem, e olha que dormiu no chão, tendo por colchão somente folha de bananeira e por travesseiro o cangote (16) da noiva do seu Argemiro. Esfregou os olhos com as costas da mão, sorriu de orelha a orelha satisfeito da vida, e enquanto se espreguiçava voluptuosamente ouviu uns murmúrios por detrás de umas ramas de maracujá:
-Endoidou? Abilolou de vez, foi? Minha filha, foi só descuidar e você deitou com o primeiro que apareceu? E o “Seu” Argemiro? E eu, como é que eu fico? Apalavrei o teu casamento com o homem e você deitou com o primeiro que se engraçou? Ô mia filha, isso só pode ser doença!
-E não é, pai?! Não sei o que me dá! Basta gostar de um homem, gostar do cheiro dele e pronto, não sossego enquanto não deitar com ele...
-E agora? O que a gente faz? E se esse cabra tiver “língua de sogra” e espalhar pra todo mundo que deitou contigo? Músico é bicho de língua frouxa. Ô raça desgraçada!
-Oxente, pai! Vamos lá para o meio da capoeira (17) nos fundos da sede do seringal.
-E a gente vai fazer o quê lá?
-Arre égua, pai! Ta difícil de entender, hem? Preste atenção...
Algo enfurecido com o mau humor da filha o velho homem a interrompeu em suas explicações:
-Prestar a atenção? É, estou prestando atenção no monte de besteira que você está fazendo, uma atrás da outra. Cria juízo, menina!
-Ôxe! Vou rasgar a roupa, arranhar os meus braços e ficar desmaiada por lá. E o senhor, pai, trate de juntar uns homens para me procurar. Não se esqueça de chamar o velho Argemiro. E venham armados... Depois que eu acordar do desmaio eu digo que fui atacada pelo tocador de sanfona. Digo que no final da festa fui à capoeira fazer minhas necessidades e fui atacada por ele. Pronto, eu sou a noiva e ele não é nada. Quem o senhor acha que o velho Argemiro vai acreditar?
-E se o Argemiro perguntar por que você não usou a casinha da sede?
-Oxente! Digo que estava apertada por demais. Digo que tinha uma fieira de mulher na porta da casinha. Pode deixar que comigo eu me ajeito. Vá logo, vá!
Chico da Sanfona nem terminou de ouvir a trama da desavergonhada. Ralou peito no meio do mato, chegou ao tapiri, juntou o que pode e jogou dentro do jamaxim.
Depois de ouvir a noiva e o sogro, seu Argemiro reuniu os capangas e deu ordens expressas:
-Me tragam o cabra vivo ou morto. Se quiserem podem amaciar o couro dele, mas se possível me tragam o safado vivo. Quero sangrar o bonito bem devagar, que nem bode. Vou dependurar o safado do sanfoneiro pelos pés e furar no cangote, bem junto a jugular, vai ser só um furinho. Por isso é que eu quero o abusado vivo, se possível, vivo. Podem bater a vontade, mas façam o possível para me trazer o cachorro vivo.
E os homens se espalharam por toda a região do seringal e adjacências.
Nem rastro do fugitivo.
Correram para o tapiri e nada.
Vadearam os igarapés e nada. Vasculharam as matas de um lado e de outro do rio e nada. O que viram muito foi balseiro e ilha de aguapés descendo na correnteza ligeira do Rio Guaporé. Quase uma semana vasculhando tudo e nada, até debaixo de pé-de-pau caído os homens tinham olhado e nada. Só faltou mesmo foi revirar folha por folha.
-Seu Argemiro, tem jeito não, o “fio-de-uma-égua” sumiu no ôco-do-mundo. Vasculhamos tudo por tudo e nada. Sumiu! Evaporou! Virou fumaça! Escafedeu-se!
-Então, peguem as canoas e desçam o rio vasculhando cada furo, cada boca de igarapé, lago, lagoa, o diabo que o parta. Se for o caso desçam o rio até Guajará Mirim, e chegando lá vigiem o trem, é bem capaz do “fio-da-égua” querer embarcar, se ele embarcar no trem é bem capaz da gente perder o rastro dele. Me tragam o “xibungo”. Pago cem mil réis para cada um do bando que encontrar. Resolvi abrir a bolsa. Quero sangrar o bicho.
Chico da Sanfona resolvera viajar a noite e durante o dia descansar e dormir. Sensata decisão. Depois de alguns dias e noites ele entrara na boca de um igarapé meio escondido pelas canaranas (18), desembarcou, afundou a canoa, subiu numa piranheira (19), se amarrou num galho e quanto se preparava para dormir vira canoas passando, eram os capangas de seu Argemiro na luz difusa da manhã. Pelo jeito eles estavam remando dia e noite, descansando poucas horas.
A descida pelo rio transcorrera no tipo de caça do gato ao rato, ele era o rato. Esconde. Vigia. Atenção redobrada a cada curva de rio. Disfarça a canoa, coração aos pulos. E nesse puxa e encolhe, passaram por Costa Marques, pelas corredeiras do Forte Príncipe da Beira, pelo Distrito de Surpresa, desembocaram no Rio Mamoré e chegaram ao município de Guajará Mirim.
Chico da Sanfona quando se aproximou de Guajará Mirim a barra da manhã emoldurava o horizonte; embicou a proa da canoinha pelo primeiro igarapé que achou e remou para a cabeceira. Pensou... Melhor esconder a canoa de novo e assuntar lá pela Estação de Trem e ver se os jagunços do seu Argemiro estão de espreita.
Entrou pelo Bairro do Triângulo, pegou a Avenida Presidente Dutra, passou pelo Colégio das Freiras e na esquina da Avenida 15 de Novembro desceu no sentido da Estação de Trem e do rio. Fizera uma volta completa, mas era melhor assim.
O dia já estava claro quando ele chegou à bilheteria para comprar as passagens. O funcionário informou que o trem daquele dia já havia partido às cinco horas da manhã e que o próximo trem só sairia no outro dia à mesma hora.
Ficou parado na frente da bilheteria pensando o que iria fazer, não podia perder tempo, não sabia se os jagunços já estavam em Guajará Mirim, pior, quando os vira passando nas canoas somente dera para gravar os perfis deles, com muito esforço poderia até lembrar-se de um ou outro chapéu. De resto, a bem da verdade, não saberia reconhecer nenhum deles, os tipos estavam sempre no meio dos outros seringueiros, alguns até trabalhavam na extração do leite, e, ademais, no seringal, qualquer oferta de dinheiro, e com certeza o velho Argemiro oferecera dinheiro pela sua captura, fazia o vivente esquecer-se do amigo do dia anterior. Todo mundo vivia pela hora da morte, devendo até a raiz do último fio de cabelo. Viviam em uma escravidão branca, com o saldo sempre devedor. O trabalho do ano corrente nunca dava para pagar a dívida do ano anterior. Ele quase que desculpava os seus perseguidores.
Perdido nessas elucubrações, Chico da Sanfona deu um passo para o lado, para detrás de uma coluna a fim de esconder-se do vento matutino que o impedia de acender a binga quando viu passar dois tipos estranhos a caminho do rio. Estavam meio longe, mas a brisa ribeirinha trouxe palavras esparsas:
-Argemiro... Bom dinheirinho... Será? Por aqui...? É... Vigiar.
Chico deixou os tipos sumirem na direção do rio e voltou na mesma pisada para o esconderijo na canoa. Embarcar no trem seria suicídio. Era oferecer a goela para a faca de picar fumo.
De volta ao igarapé, fisgou umas piabas (20). Fez chibé (21), jogou por cima um punhado de piracuí para temperar. Fez um moquém (22) para assar as piabas, tomou um gole de mata-bicho e comeu a primeira refeição dos últimos dois dias. Depois apagou a fogueira do moquém, fez uma cama de rama de samambaia, folha de bananeira e palheira e dormiu para esperar a noite chegar.
Quando a montaria de Chico da Sanfona saiu do pequeno tributário do Rio Mamoré, há muito o sol tinha se posto. A última Lua Minguante fora na noite anterior, aquela seria a primeira noite de Lua Nova. Lá adiante, na curva do rio, na jusante à direita, as luzes da cidade alumiavam as nuvens abundantes que escondiam as estrelas naquele trecho de rio. Um manto negro, salpicado aqui e ali de pontos das luzes do porto cobria as águas amarelas do grande rio dando-lhe a tonalidade de cobre envelhecido, azinhavrado.
Preguiçosamente, troncos de árvores, galhadas desgarradas e ilhas de aguapés desciam na correnteza ligeira do Rio Mamoré. E em meio aos vultos negros da vegetação derribada das barrancas ribeirinhas uma cabeça humana aflorava mimetizada nas folhas das ramas aquáticas.
Os dedos crispados de Chico da Sanfona estavam grudados da beirada do “casquinho”. Os olhos, brilhando de medo perscrutavam a margem do rio. Ao longe, Chico escutou o ronco surdo da cachoeira. Um calafrio percorreu-lhe a espinha aumentando o frio na água gelada do Mamoré.
A opção foi manter-se agarrado ao beiral da montaria forçando o corpo na horizontal, perpendicular à canoa, pés para a proa e a cabeça para a popa. A intenção de Chico da Sanfona era bem clara. Utilizar os pés para tentar aparar a força dos golpes em eventual encontrão com as pedras do rio.
A pequena canoa era jogada de um lado para o outro tal qual uma folha seca em vendaval. Vagas violentas provocadas pela correnteza jogavam com o destino incerto da canoa e seu apêndice. No rebojo da corredeira Chico engolia goles e goles da água barrenta. Por vezes uma onda súbita esbatia-lhe o rosto encobrindo-lhe as narinas descendo pela garganta em ondas ardentes engasgando-o e deixando-lhe os olhos vermelhos de tanto tossir. Chico tinha a impressão que chumbo derretido grudava-se à sua traquéia. Por vezes uma das mãos se soltava e o desespero domava a razão, o Todo Poderoso era invocado. Um grito surdo denunciava um baque violento das costelas em uma ponta de pedra.
De repente tudo parou. A canoinha girava lentamente em um remanso. Uma dor lancinante fustigava a sobrancelha direita. O líquido que escorria pela face era morno, viscoso, pegajoso até. O sanfoneiro percebeu que havia batido a cabeça em alguma pedra. Notou que o sangue deslizava pelo queixo, pescoço e misturava-se ao manso rebojo que adernava o “casquinho”. Entrou em pânico. É no rebojo, no remanso formado após as corredeiras que os grandes peixes do rio, piraíbas, jaús e piraras habitavam. Será que eles eram atraídos pelo sangue? Pensou. Não, acho que não. Concluiu. As piranhas é que são atraídas pelo sangue. E candiru (23), meus Deus? Será que candiru gostava de sangue? Sorriu do próprio medo. Lembrou das horas em que ficava jogando conversa fora no terreiro do seringal, alguém tinha dito que candiru gostava mesmo era de entrar nos buracos da gente, no fiofó, pelo canal da estrovenga, nos xibius (24) das mulheres e por aí vai.
Pelo sim, pelo não, com muito esforço alçou o corpo para dentro da canoa e se deixou ficar, quieto, deitado no fundo da pequena embarcação, aspirando o ar impregnado do cheiro acre de folhas, galhos e carcaças de peixes e animais putrefatos que, flutuando, rodopiavam mansamente junto com a canoa no remanso próximo ao barranco.
Depois da experiência da primeira cachoeira, as outras foram transpostas com relativa facilidade, umas com mais dificuldades outras nem tanto. Agora ele se preparava para enfrentar umas das mais perigosas corredeiras do Rio Madeira, a Cachoeira do Giráu, famosa por suas águas ligeiras, pedras de ponta e rebojo que formavam ondas de até um metro e meio de altura.
Se Chico da Sanfona tivesse a sorte de o casquinho enveredar por um canal, talvez a “montaria” não se espedaçasse e Chico sobrevivesse às perigosas águas do Giráu. Na verdade o Rio Madeira nada mais era que o prolongamento da junção de diversos rios importantes da Bacia do Guaporé e Madeira, já que todos corriam para formar a Bacia do Amazonas. Começava com o Rio Guaporé, que descendo para o norte recebia o nome de Mamoré, que em seu prolongamento recebia o tributo dos rios Yata e Benir, este proveniente da Bolívia, e, mais na frente, recebia o tributo do Rio Abunã e que em seu prolongamento recebia finalmente o nome de Rio Madeira. Este complexo fluvial era pontilhado por várias cachoeiras, dentre as mais importantes constam a de Guajará Assu, atravessada com muita dificuldade por Chico da Sanfona, Ribeirão, Giráu, Teotônio e por fim, a cachoeira de Santo Antônio.
Chico da Sanfona estava exausto, uma das mãos sangrava devido ao atrito com o cabo do remo, o ferimento na sobrancelha latejava em dores cruciantes, as pernas e braços estavam lanhados pelas pontas de pedras. A barriga, grudada nas costelas, roncava de fome. Há muito que perdera o jamaxim, restara somente a faquinha de picar fumo e a binga. O casquinho milagrosamente ainda estava inteiro, mais estava tão fragilizado que Chico duvidava que ele agüentasse os ventos de uma chuva mais forte. Arrepiou os pelos do braço e eriçou os cabelos da nuca ao ouvir o estrondo que as águas ligeiras da Cachoeira do Giráu fazia ribombar pelas matas que a circundava. Por mais proteção que a Boa Sorte dispensara para Chico da Sanfona, a Cachoeira do Giráu era o limite. Tomara uma decisão:
‘Chega! Não vou fugir mais! É melhor ir para o inferno acompanhado do que sozinho. A faquinha era boa de corte e com jeito dava para levar pelo menos um. Não devia ser muito diferente de tocaiar caça. Era ter paciência e esperar o momento certo para o bote’.
Tomada a decisão. Remou para a margem direita do rio, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré estava sempre à direita do Rio Madeira no sentido de quem vinha de Guajará Mirim para Porto Velho. O brilho esmaecido da estrela d’alva anunciava que o dia não tardaria a amanhecer.
Pulou do casquinho para a margem e com certa dificuldade subiu as barrancas, caminhou algumas dezenas de metros e sentou sobre os trilhos da lendária estrada de ferro. A tortura da fome fazia a cabeça dar voltas. Ele estava fraco e sabia disso. Tomara a decisão certa, continuar pelo rio era navegar para a morte. Pela estrada de ferro sempre teria a esperança de encontrar um colono, o pessoal da manutenção da ferrovia, enfim, as chances de sobrevivência aumentavam exponencialmente.
Caminhou o resto da madrugada por sobre os dormentes da ferrovia da Madeira Mamoré ouvindo o rugido da cachoeira. Naquele trecho a ferrovia era assentada perpendicular ao rio, quase à sua margem. Sol já estava alto quando o caminhante, após uma curva da ferrovia, avistou a Vila do Giráu. Extenuado, encaminhou-se para o primeiro tapiri que encontrou. Por entre as palhas de buriti (25) que constituíam o telhado do casebre pairava uma névoa de fumaça, indicativo de que o dono do tapiri tinha deixado feijão ou qualquer outra comida no fogão. Aos fundos da precária habitação vislumbrava-se um pequeno roçado de mandioca e milho, algumas bananeiras, mangueiras, cajueiros, cajás, fruta-pão, jaqueiras, abius-grandes e alguns pés de pimenta de cheiro, malaguetas e murupis. Galinhas, patos, galinhas d’angola, papagaios, jacus, filhotes de queixadas, de anta, cotias, pacas e alguns bacorinhos perambulavam pelo quintal e pelo terreiro. Um macaco barrigudo amarrado pela cintura saltava do terreiro para um jirau (26) e do jirau para terreiro soltando gritos estridentes à aproximação do estranho. Enfim, os xerimbabos (27) de qualquer moradia interiorana.
-Ô de casa! Quem está de fora chama quem está de dentro. Com a graça de Deus!
-Ô de casa! Com a sua licença vou entrando!
O silêncio imperava no interior do tapiri constituído de dois cômodos e chão batido. O curioso intruso percebeu que no primeiro compartimento com jeito de sala de visitas, jantar e demais atividades corriqueiras era decorado com duas redes penduradas em armadores, uma na parede frontal e outra na parede lateral à esquerda; a parede lateral à direita ostentava um couro de cateto e de uma onça pintada; um chapéu de couro pendurado em um prego rente à porta de acesso à cozinha emoldurava um par de arreios esticados em forma de xis; algumas tarrafas penduradas no teto penduravam deixavam cair pingentes de chumbadas; um facão enfiado entre as palhas do telhado; uma velha espingarda com a coronha descansando no piso de terra, dois tamboretes, uma mesa rústica feita de tábuas de paxiúba (28) e uma cadeira de balanço. O segundo cômodo, utilizado como cozinha, continha um fogão de barro junto à parede ao fundo, um pequeno jirau rente à janela, um pote de barro com uma caneca de estanho pendurada na borda. Em uma pequena bancada fixada na parede lateral estavam alguns pratos de flandres, colheres de vários tamanhos e materiais variados e algumas facas, também de tamanhos variados.
Chico da Sanfona destampou as panelas que fumegavam no fogão. Em uma pequena panela de ferro corrugado um feijão cheiroso atiçou a fome de dias de jejum forçado. Em outra panela fumegava um cozido de carne de tatu. O visitante percebeu que a panela estava com água até quase a borda; sábia decisão do dono do tapiri pensou Chico da Sanfona, a água iria ferver e evaporar até a hora do almoço, lá pelas onze horas ou meio dia, restando somente um caldo grosso e a carne macia para comer com farinha misturada com o feijão.
Acima do fogo, penduradas no teto junto aos fios de picumã, postas de carne salgada de caça, talvez de veado ou de anta prenunciava uma refeição ligeira para aplacar a fome abrasadora.
De certo o morador ausente era conhecedor do costume de que a comida da casa, na ausência do dono, estava à disposição de eventual visita inesperada. De qualquer modo, Chico da Sanfona esperava pagar com qualquer trabalho que o morador exigisse pela comida consumida.
O visitante cortou um naco da carne salgada, avivou o fogo do borralho e depois de lavar a carne para retirar o excesso de sal colocou-a para moquear; pegou um pouco de farinha e colocou em uma cuia; foi ao pote retirou água e umedeceu a farinha; colocou um pouco de sal na mistura de farinha e água para preparar o chibé. Depois de tudo pronto sentou-se à mesa para comer. À visão do chibé com carne moqueada salivou a boca do andarilho.
Quando Chico da Sanfona deu a primeira dentada no naco de carne moqueada sentiu o cano de uma espingarda cutucar a nuca.
-Cabra! Estou te espiando faz tempo, desde que o ‘barrigudo’ deu o alarme. Não se apoquente não! Pode comer a vontade. Não vou te matar de bucho vazio, não.
Chico da Sanfona engasgou com o susto. Os cabelos da nuca arrepiaram e um frio desceu pela barriga. Depois de tossir até os olhos encherem-se de lágrimas, sussurrou gaguejando:
-Home, seu minino! Não se arrete, não! Se o senhor faz questão eu pago pela comida, mas também não vamos chegar a tanto. Matar um cristão por um prato de bóia? Oxente!
-Não é pela comida não, cabra! E fique quieto, não bula um dedo sequer! Continue olhando para frente. Isso mesmo fique olhando para frente. Não! Fique olhando para o prato, é melhor. Olhe cabra! Não se bula! Fique quieto! Se levantar do tamborete eu pipoco o tampo da cabeça.
-Valha-me Deus! Mas homem do céu! Me diga, se não pela bóia então qual a razão desse escarcéu todo? Homem de Deus, eu só peguei um pouco de comida, só isso!
-Eu já lhe disse, não se bula! Está certo, vou lhe fazer uma pergunta. Cabra desgraçado, tu não se lembra de Mariazinha? Mariazinha de Zé de Antão?
-Que Mariazinha? Mariazinha de Zé o quê? Antão? Que Antão, homem de Deus? Está doido? Oxente! Eu não sei nem quem é o senhor, quanto mais da tal Mariazinha. Abilolou? Me deixe me virar, me deixe!
-Está certo! Pode se virar. Olhe bem para a minha cara. Faz tempo que eu estou procurando você, cabra safado?
Mas curioso do que com medo Chico da Sanfona virou-se para o dono do tapiri e olhando-o bem dentro dos olhos buscou nos recantos mais escondidos de sua memória algum indício que o fizesse lembrar a caratonha barbuda que o olhava com olhos de fúria selvagem. Não recordava em nada o rosto furioso à sua frente.
-Não se lembra, não é? Vou te ajudar. Faz mais ou menos uns dez anos que eu estou na tua captura. Já rodei os seringais de todos esses rios, do Guaporé ao Madeira, até em Humaitá, no Amazonas, eu te procurei. E justamente, quando eu e minha velha desistimos de te procurar. Quem me aparece? Assim... De mão beijada! Sem que nem pra quê? Tu...!
-Mas home de Cristo! O que foi que eu lhe fiz? Eu nunca lhe vi nem mais gordo e nem mais magro.
-Exato! Realmente, tu nunca me viu, mas viu Mariazinha. Ô meu Deus do céu, como viu!
-Quem é essa Mariazinha? Que Mariazinha? O senhor fica falando em Mariazinha... Mariazinha... Deus do céu! Quem é essa bendita Mariazinha? Homem do céu, eu estou quase morrendo por causa dessa Mariazinha que eu nem sei quem é.
-Quase morrendo não! Vai morrer! Vai morrer igual a um cachorro sarnento que você é. Vai morrer e eu vou tirar os teus bagos para fazer uma bolsa de fumo.
-Home, seu minino! O senhor é doido! Doidinho de pedra! Ô meu Senhor Jesus Cristo, por que eu não passei direto? Por que eu fui parar aqui?
Soltando uma risada perversa Zé de Antão apoiou a coronha da espingarda na axila esquerda mantendo o dedo no gatilho enquanto que com a mão direita retirava o chapéu e olhava para cima, rapidamente, exclamando:
-Com a graça do meu Padim Ciço! Somente a graça do meu Padim fez tu parar no meu tapiri. Eu já tinha até desistido de te procurar. Foram anos e anos te campeando, cabra safado.
Exasperado, os olhos quase lacrimejando, Chico da Sanfona choramingou:
-Por quê, meu Deus do céu, por quê?
Apontando a boca do cano da espingarda para o peito do sanfoneiro, Zé de Antão descansou o pé direito em cima de um tamborete e tirou as dúvidas de Chico da Sanfona.
Contou que a Mariazinha em questão era agregada na Fazenda Sela de Ouro, lá pelos sertões do Pajeú, em Pernambuco. Falou que lá na fazenda trabalhava um vaqueiro, tocador de sanfona; moço bem afeiçoado; conquistador de moça donzela; e que começou um namoro com Mariazinha com promessas de casamento e tudo o mais.
À medida que Zé de Antão contava a história de Mariazinha, o sangue sumia das faces de Chico da Sanfona. Foram tantas as mulheres que foram seduzidas pelo sanfoneiro desde que ele migrara dos sertões de Pernambuco para os seringais da Amazônia que ficara difícil lembrar-se de todas. Foram tantas Marias na vida do sanfoneiro, e justamente o pai da primeira, estava ali, na frente dele, olhando-o com olhos homicidas.
Zé de Antão, indiferente aos pensamentos do sanfoneiro continuou a sua história. O dito cujo do sanfoneiro namorou, noivou, casou, aproveitou do bem bom e depois com a desculpa de ganhar dinheiro para melhorar de vida firmou destino para os seringais da Amazônia. Depois disso sumiu no mundo, escafedeu-se, desapareceu. Mariazinha ainda esperou durante um tempo e depois que se convenceu que o marido não voltaria mais, foi definhando, definhando, até morrer de desgosto. Era a única filha de Zé de Antão e de Maria das Graças, sua mulher. Pouco tempo depois, a mãe, desgostosa com o passamento da filha, também definhou até morrer. Zé de Antão ficou só no mundo. Só e amargurado, com o veneno da raiva e da vingança deitando raízes no seu espírito. Saiu no mundo à caça do indigitado do genro. No dia que saiu de sua pátria, seu torrão natal, seu destino ficou firmado, a sina era encontrar o indigitado. Pergunta daqui, pergunta dali, soubera que o sanfoneiro tinha migrado para os seringais de um tal de Território Federal do Guaporé. Na época da pista colhida corria o ano de 1945, lembrava bem, era o ano do fim da Segunda Guerra Mundial.
Território do Guaporé. Terra nova, lugar de muito aventureiro. O dito lugar certinho de cabra safado se acoitar.
Com a foto do casamento da filha no bolso debandou também para a Amazônia com destino também para o tal do Território. Rodou os seringais dos Rios Guaporé, Mamoré e Madeira. Ficara anos nessa lida. Achava que o encalço tinha durado pra mais de dez anos, talvez uns quinze, a cabeça andava meio fraca, o juízo mole, não lembrava direito. E justamente quando resolvera dar a busca praticamente por encerrada, não é que Padim Ciço colocara no colo dele o desinfeliz que desgraçara a vida da filha e da sua mulher? Pelo jeito ia passar o resto da vida pagando promessa ao Padim.
Eram nove horas da manhã de uma Quarta-Feira de Cinzas do carnaval de 1960 e sol refulgurava nos paralelepípedos rente à calçada do Bar Arara na confluência da Avenida Sete de Setembro com a Avenida Presidente Dutra no centro comercial de Porto Velho, capital do Território Federal de Rondônia, um velho e alquebrado seringueiro indiferente aos bêbados retardatários do carnaval recém terminado escorou os cotovelos no balcão e pediu um café e papel de fumo, de preferência papel ‘colommy’, era melhor para fazer um cigarrinho de fumo de rolo. Pacientemente bebericou o café, meteu a mão do bolso da camisa, pegou a bolsa de fumo deixou-a sobre o balcão, retirou um punhado de fumo, esfregou-o na palma da mão direita com o polegar da mão esquerda para deixar os filamentos do fumo bem soltos. Com a mão em concha derramou o fumo sobre o papelinho, enrolou o fumo no ‘colommy’ e passou a ponta da língua na borda do papel umedecendo-o para firmar o canudinho. Olhou o artefato e satisfeito com a perfeição do trabalho bateu a binga acendendo o cigarro, deu uma tragada prazerosa e quando ia guardar a bolsa de fumo um curioso ao lado perguntou:
-Bonita bolsa de fumo, velho, é feita de pelica?
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Glossário:
01 – Montaria: Pequena canoa, feita, comumente, de um tronco escavado a fogo; 02 – Casquinho: o mesmo que montaria; 03 – Tapiri: pequena habitação rústica, geralmente construída com folhas de palheiras; 04 – Piracuí: farinha de peixe seco - coloca-se o peixe seco e condimentos em um pilão e soca-se até transformar em farinha; 05 – Jamaxim: cesto para transporte de cargas, feito ger. de trançado hexagonal, com três lados e fundo plano, provido de alça para ser carregado às costas, preso aos ombros ou à testa; 06 – Chavascal: mata de espinheiros e outras plantas silvestres; 07 – Sarapatel: Iguaria preparada com sangue, fígado, rim, bofe, tripas e coração de certos animais, especialmente porco e carneiro, com abundância de molho, e bem condimentada; 08 – Trapiche: pequeno atracadouro construído sobre troncos tendo como assoalho tábuas de paxiúba; 09 – Bubuia: Ato de flutuar, coisa leve e flutuante; 10 – Balseiro: aglomerado de troncos, galhos desgarrados, aguapés e vegetações desgarradas das margens ribeirinhas reunidos à feição de jangada, que desce o rio; 11 – Pau: expressão popular dos seringueiros para designar as seringueiras em geral - árvore que fornece o látex; 12 – Ouricuri: planta da família das palmáceas (Cocos coronata) de cujo coco depois de seco os seringueiros queimam para produzir fumaça utilizada para defumar o látex; 13 – Repiquete: massa de água que desce das cabeceiras dos rios, por efeito das primeiras chuvas que ali caem, e que engrossa o caudal do rio, sem, no entanto, haver chovido no resto de seu curso; 14 – Xibungo: pederasta passivo; 15 – Iara: ente fantástico, espécie de sereia de rios e lagos; iara, uiara, aiuara-aiuara; 16 – Cangote: região occipital - nuca, cachaço; 17 – Capoeira: mato que nasceu nas derrubadas de mata virgem; 18 – Canaranas: Designação comum a diversas gramíneas dos gêneros Paspalum e Panicum (Panicum spectabile); 19 – Piranheira: árvore da família das euforbiáceas (Piranhea trifoliata), que habita a floresta pluvial e produz madeira de boa qualidade, mas inteiramente sem préstimo; 20 – Piaba: designação comum a várias espécies de peixes fluviais - piava, piau, aracu, lambari; 21 – Chibé: pirão feito com água, farinha de mandioca, sal ou açúcar ou mel, e por vezes temperado com cachaça; 22 – Moquém: grelha de varas para assar ou secar a carne ou o peixe; 23 – Candiru: Designação comum a várias espécies de peixes de 3 a 5cm de comprimento, corpo cilíndrico, nadadeiras dorsal, anal e ventrais situadas muito atrás, e opérculo com pequenos espinhos do lado externo. Uma das espécies mais conhecidas é V. cirrhosa, da Amaz., de coloração rósea e com pequenos barbilhões na boca. (É crença popular, não comprovada cientificamente, que o candiru penetra na uretra das pessoas que se estão banhando nos rios); 24 – Xibiu: vulva; 25 - Buriti: palmeira (Mauritia vinifera) dotada de fruto amarelo do qual se extrai óleo, e broto terminal comestível, e com o espique e espádices se fabrica o vinho de buriti; coqueiro-buriti, buritizeiro, muriti; 26 – Jirau: estrado de varas sobre forquilhas cravadas no chão, us. para guardar panelas, pratos, legumes, etc; 27 – Xerimbabos: qualquer animal de criação ou estimação; 28 – Paxiúba: palmeira (Iriartea exorriza) habitante dos igapós, e que mede entre 10 e 15m de altura. O estipe é sustentado por um pedestal de raízes aéreas tão ásperas e duras que servem de ralo, e a madeira é escura e fibrosa.