O excesso das obsessões
Da mesma maneira como quem produz uma sinfonia, ele senta em seu banquinho no escuro, escolhe o CD favorito, que uma velha amiga sugeriu como inspirador, vai escutando algo novo, dedilhando as palavras sob a tela.
A água está gelada e ele gosta disso. Toma mais um goles pra ver se as idéias vão fluindo melhor. E como uma cachoeira de devaneios, fantasmas e criaturas mortas sussurram contos no seu ouvido. Atento ouvinte, ele junta o útil ao agradável e fantasia com aquela profusão de personagens e acontecimentos incríveis.
Tudo isso não valeria de nada, se cada centímetro não fosse medido antes num caderno velho. Por isso decide consultar outra informação numas folhas do meio. Rabisca isso e aquilo. Tudo certo. Bebe outro gole. Não beberia café de madrugada. O gosto é amargo e espanta o sono.
Vai daqui pra ali com os dedos sob o teclado, mais um susto pode surgir aqui ou matar aquela pessoa seria mais interessante. Dali pra frente, as coisas começam a correr bem pra ele. A história está completa, o vício saciado. A água acaba e ele tem vontade de urinar. Aperta aqui, ali, mais um pouco e não dá pra agüentar. Aliviado, vem o sono. Sono é coisa que não tem como evitar, uma hora chega. Afofa o travesseiro como todas as noites. Naturalmente, ele não dormiria sem o travesseiro predileto.
Nesse embaralhado da rotina dele, nunca se deu por si que sua vida sempre caminhou para o mesmo sentido, seguindo um ritmo pouco alternado de manias e com garantia de sucesso em todos os dias, porque é claro, todos parecem iguais. Tudo isso fruto da sua imaginação movido por seu vício único e absoluto: o amor pela palavra.
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