A MULHER DE SAPATO VERMELHO
A mulher de sapato vermelho era esguia como uma cobra. Sua falta de beleza comprometia um futuro que poderia ser promissor.
Afastada, desde criança, daquilo que comumente denominam de boas maneiras, fazia dela notada, como disse, não pela beleza, que lhe faltava e a condenou aos olhares mais espantados.
E já na mocidade, a vaidade tão presente e esperada às meninas da sua idade, não fazia parte, pois, ignorante da utilidade desses acessórios, tornava-a refém de brincadeiras maldosas.
E se aquilo que contribui para elevar a moral e a auto-estima feminina fosse um premio somente agraciado aos brindados pela benevolência e providência divina, não seria exagero dizer que na sua vez, a Providência dormira no plantão.
Vencidas as etapas que antecedem a fase adulta, de menina abandonada por Venus, teve em Medusa fiel companhia. E nessa nova fase que se passou a ver, Venus a brinca em dobro. E a beleza tão faltosa noutros tempos assume, na mulher que se tornara, característica marcante.
A mulher de sapato vermelho, que agora desfila como uma deusa pelas passarelas da vida, não se vinga daqueles que lhe zombaram. Somente os encara com um sorriso maroto que denuncia os novos tempos. E senhora da sua beleza sai seguida por olhares apaixonados.