A CONQUISTA II

Naquela manhã de segunda-feira, Ellen, acordou cedo. Há pelo menos um mês e meio estava sem secretária em casa. A última que esteve com ela, abandonou o trabalho e não mais apareceu. Agora que se terminaram as férias, as crianças precisavam estar despertas e arrumadas, alimentadas, prontas para irem à escola. Ellen corria contra o tempo para fazer tudo isso e ainda cuidar de si; para ir trabalhar.

Essa rotina já estava fixada na vida de Ellen. Não tinha com quem dividir essas tarefas. Eram somente suas. Era mãe e pai ao mesmo tempo, desde que o seu marido falecera.

No início, chegou a pensar que não aguentaria. Seus pensamentos ainda estavam desordenados; sua dor era gigante; a fragilidade intensa. Mas, com o passar do tempo, foi amadurecendo, foi se acostumando com sua dupla responsabilidade e hoje já estava com total controle sobre o lar.

Atualmente, o que mais a perturba é a realização do inventário. A justiça é morosa demais. Seus poucos bens, alguns para complicar, estão em nome de terceiros e outros estão sub judice, o que a deixa muito nervosa, pois já se acumulam várias pendências e ela não pode utilizá-los.

Ellen, a cada dia, está mais carente de afeto, de dinheiro, de solução de uma forma geral para seus problemas. João Paulo, no entanto, continua feito “água mole em pedra dura...”, todos os dias: telefona-lhe nas horas mais inusitadas. Fala de sua admiração que tem por ela. Em outros momentos, se diz abobalhado, pois correr atrás de uma mulher assim, nunca havia feito. Mas, não desiste de ficar na varanda todas as noites, a observar o apartamento de Ellen, a espera de um olhar, pelo menos um, de Ellen.

Por sua vez, Ellen, começou a falar desse contato para sua sobrinha, que achou um barato. Em outro dia, chegando ao trabalho, desabafou com suas colegas de sala. Quase que pedindo um conselho, uma orientação. Falou que tinha imenso temor em se envolver com alguém, pois tinha duas filhas para cuidar e de repente podia ser que João Paulo quisesse apenas brincar com seus sentimentos. Suas colegas a ouviram atentamente, claro, depois riram muito com seu jeito encabulado de desabafar e a incentivaram; ela tinha o direito a tentar reconstruir sua vida. Era jovem, bonita, merecia dar uma chance de liberdade ao seu coração, para nutrir novos sentimentos por outro alguém.

Ellen, a cada novo telefonema, refletia sobre o comportamento daquele homem. Será que ele estava falando a verdade? Gostava de fato, dela? E suas filhas o que achariam se soubessem? Eram tão pequenas, não compreenderiam...

As filhas da Ellen são crianças extremamente espertas. Perceberam a forma que João Paulo sempre olha para Ellen, em poucos encontros ocasionados no elevador, ou na área de lazer, enquanto ela espera as crianças. E chegaram a comentar com a mãe, o que achavam daquele olhar. A menor, com os olhos cheios de lágrimas, deixou falar seus pensamentos: “mainha, acho que João Paulo quer namorá-la, pois ele olha e sorri para você e até falou que vai trazer um presente em meu aniversário...” Depois, num melodioso dueto falaram em alto e bom sim: “nós não queremos que você namore ninguém!” A Ellen ficou mais vermelha que um tomate maduro e desconversou de imediato.

Mesmo contra a vontade, destas incríveis adivinhas, João Paulo jamais parou de telefonar. Ellen por sua vez, não mais desligava o telefone. Habituou-se a receber suas chamadas a qualquer hora. Começou a gostar do papo amigo. Afinal, tinha-o como amigo. Ele estava sempre tão disponível, sua conversa preenchia aquele vazio que estava em seu peito e em sua mente. Enquanto conversavam, sentia-se mais leve, mais alegre. Estaria gostando de João Paulo? Talvez... como um amigo! Ou seria algo mais?!

Cellyme
Enviado por Cellyme em 09/08/2009
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