SEVERINO PÉ-DE-CANA (parte1)

Severino, assim era chamado pelo apelido de “pé de cana” por ser fascinado pela aguardente “a branquinha cana” pois é assim que se chama no Nordeste brasileiro, a cachaça. Tão fanático pela bebida que resolveu ao invés de flores plantadas no jardim do seu barraco, lá estava, uma touceira dela, a cana, linda e viçosa.

Todos os vizinhos e conhecidos riam dele e sempre fazendo chacota: _” Bom dia pé de cana!” “Oi pé de cana como vai? “Já conseguiu emprego? E assim o Severino ganhou esse apelido, perdeu o direito de ser chamado pelo o verdadeiro nome.

Numa noite quente de verão, era janeiro. Estava ele dormindo sossegado e sua mulher Raimunda havia perdido o sono por causa do calor intenso, o ventilador enguiçado e os pernilongos lhes perturbavam.. Vez em quando assentava um no marido, ora no rosto, ora no braço, outra ora no bumbum, daí ela metia o tapa

Ele acordava assustado e lhe dizia:

__Mulé tu ta doida? Depois de veia deu pra me batê foi?

__ Que nada home de Deus é essas marditas muriçocas!

__Agora tu me tirou o sono! (reclamou Severino)

__ Bom já qui nói tamo acordado que ta se alembrar da nossa vinda pra Sum Paulo há dez ano atrái heim mulé?

__ Sim, a começá pela a nossa saída de lá, quase perdemo o onibu, ele saíndo do ponto, e tu gritando “lá vai-lho!” e eu:__ pára seu motorista! Daí ele parou e entramo naquele bendito que nem de rodoviara era, era de uma ta de “excusão”,parecia uma lata velha ambulante, quebrando o caminho todo, só fartô trocar a carroceria. E aquela véia do meu lado? Pois nem pudia ficar do teu lado no mermo banco pro causa dos minino...a véia cumendo de tudo que levava e nas parada também, parecia que ia estorá. Quando estava tirando um cochilo acordei com barui e aquela catinga de cocô encendiou o onibu num foi mulé?

__Foi né...daí tu gritô pró mode o motorista parar:

__Pare seu motorista tem uma véia aqui toda melada de cocô!

Daí o motorista continuou ainda sua viagem por um bom tempo pela estrada, até chegar num posto de gasolina onde havia um restaurante e gritou pra todo mundo:__ Descem todos, menos a velha! Ela vai dentro do ônibus para ambos serem lavados! Ela tem que tirar o excesso , para depois tomar um banho descente com sabonete.

__foi mermo né Severino!

__Quanto tempo se passou heim?

__ Lembra também o pro quê do teu apelido aqui em Sum Paulo?

__É mermo né mulé? , era viciado numa caninha, ainda bem que segui teu conseio de largar o viço indo no” AA” até hoje num aprendi falar direito o nome. Pois sim vivia tumando cana direto , ninguém dava imprego pra eu, me chamava de “Zé ninguém” “pé de cana” e foi o apelido que mais pegô!

É se não fosse o roubo do ladrão...

Foi assim... A mulher de Severino cansada de passar fome com três filhos pequenos ainda, mesmo com dificuldade dava um jeito de fazer uma faxina aqui, outra ali, mas tinha dia que faltava as coisas em casa...

Ele era um bom pedreiro de mão cheia. Veio para São Paulo em busca de um sonho, como muitos nordestinos. Mas por causa da crise do desemprego, ficou muito tempo sem...

Continuação...

Dora Duarte
Enviado por Dora Duarte em 08/08/2009
Reeditado em 09/08/2009
Código do texto: T1743852
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