Que Foi que eu fiz?
Ele acordou como o fazem os bichos, sem a ressaca que típica dos homens. Despertou viril e forte, emanando um bocejar poderoso e breve, mais por hábito do que necessidade, pois poucas necessidades possuía e era no simples muito feliz. Abriu os braços e saldou o sol fazia. Um círculo dourado cercava o astro-rei denunciando a beleza excelsa daquela manhã.
Sentia-se leve, livre, fortemente compelido a começar de novo.
- A vida sempre oferece um recomeço, pensou. - E o seu pensamento era vida, força e poder. Refletia sobre as coisas que não deram certo nos últimos dias de trabalho.
- De repente a vida muda e tudo dá errado! – Disse a si mesmo e tinha sempre esse hábito de conversar consigo para si sem que mais nada lhe importasse. Ninguém o julgava louco por isso, afinal, quem poderia em sã consciência questioná-lo, embora muitos subalternos o fizessem com ávida frequência? Era o chefe. Disse que era o chefe? Não disse, pois era.
Seria mais um dia de trabalho, como muitos quantos já foram e tantos outros que ainda haveriam de vir e a chuva o cansara dando finalmente uma trégua permitindo que todo aquele sol banhasse o mundo que habitava.
Não lhe batia nem alegria, nem tristeza, nem gozo e nem tormento e a sua vida estava absolutamente completa, como asseverou Cecília Meireles em um poema do qual lembrara vagamente, embora de tudo o que quisesse pudesse se lembrar completamente, mesmo do que haveria de porvir, como o referido poema que ainda seria.
Despertava quando queria e ninguém reclamava da sua ausência nos dias de trabalho. Deixava tudo no automático. Estabelecera as regras, as normas e distribuíra com competência as funções. Tudo funcionava conforme suas ordens e horrível seria o destino de quem desobedecesse. Portanto, o temiam, ao passo que também o amavam através das possibilidades fantásticas de crescimento que o empreendimento a todos propiciava.
Surpreendera-se, no entanto, ao se ver cercado por todo aquele azul de ondas que se espalhavam pelo infinito. Da luxuosa cobertura que ocupava poderia abraçar o mundo, e o fazia com frequência. Somente agora se recordara que tudo sumira naquele sono que durara 40 dias.
- Que foi que eu fiz? – Perguntou-se e ninguém quis responder dedicando-se os querubins e arcanjos a ocupar-se do que lhes competia. Viu então, e tudo Ele via, a nau de Noé, pequeno graveto ao balanço do mar agitado, e se lembrou da ira que O acometera. Acalmou as águas. Ordenou que abaixassem e ficou feliz quando viu a primeira praia lisa sentindo-se seco como pedra. Mandou um belo arco-íris e a arca bateu em uma encosta firme descendo os animais e os últimos homens que dariam ao mundo um recomeço.
Travou uma aliança prometendo não mais se perturbar e destruir a própria criação. Os animais correram o mundo e daquela única família originou-se de novo toda a humanidade.
Sempre que conto, ou reflito, ou medito sobre essa história me bate uma terrível pergunta:
- Não seria melhor Ele ter estourado uma veia no cérebro de cada um? Precisava ter destruído tudo, até mesmo as inocentes libélulas?
Por essas e outras, e tantas que ainda há, prefiro escrever ficção dando-lhe ares de realidade. E a cada texto, e a cada crença, e a cada mundo que construo ou destruo, pergunto:
- Que foi que eu fiz?
Ele acordou como o fazem os bichos, sem a ressaca que típica dos homens. Despertou viril e forte, emanando um bocejar poderoso e breve, mais por hábito do que necessidade, pois poucas necessidades possuía e era no simples muito feliz. Abriu os braços e saldou o sol fazia. Um círculo dourado cercava o astro-rei denunciando a beleza excelsa daquela manhã.
Sentia-se leve, livre, fortemente compelido a começar de novo.
- A vida sempre oferece um recomeço, pensou. - E o seu pensamento era vida, força e poder. Refletia sobre as coisas que não deram certo nos últimos dias de trabalho.
- De repente a vida muda e tudo dá errado! – Disse a si mesmo e tinha sempre esse hábito de conversar consigo para si sem que mais nada lhe importasse. Ninguém o julgava louco por isso, afinal, quem poderia em sã consciência questioná-lo, embora muitos subalternos o fizessem com ávida frequência? Era o chefe. Disse que era o chefe? Não disse, pois era.
Seria mais um dia de trabalho, como muitos quantos já foram e tantos outros que ainda haveriam de vir e a chuva o cansara dando finalmente uma trégua permitindo que todo aquele sol banhasse o mundo que habitava.
Não lhe batia nem alegria, nem tristeza, nem gozo e nem tormento e a sua vida estava absolutamente completa, como asseverou Cecília Meireles em um poema do qual lembrara vagamente, embora de tudo o que quisesse pudesse se lembrar completamente, mesmo do que haveria de porvir, como o referido poema que ainda seria.
Despertava quando queria e ninguém reclamava da sua ausência nos dias de trabalho. Deixava tudo no automático. Estabelecera as regras, as normas e distribuíra com competência as funções. Tudo funcionava conforme suas ordens e horrível seria o destino de quem desobedecesse. Portanto, o temiam, ao passo que também o amavam através das possibilidades fantásticas de crescimento que o empreendimento a todos propiciava.
Surpreendera-se, no entanto, ao se ver cercado por todo aquele azul de ondas que se espalhavam pelo infinito. Da luxuosa cobertura que ocupava poderia abraçar o mundo, e o fazia com frequência. Somente agora se recordara que tudo sumira naquele sono que durara 40 dias.
- Que foi que eu fiz? – Perguntou-se e ninguém quis responder dedicando-se os querubins e arcanjos a ocupar-se do que lhes competia. Viu então, e tudo Ele via, a nau de Noé, pequeno graveto ao balanço do mar agitado, e se lembrou da ira que O acometera. Acalmou as águas. Ordenou que abaixassem e ficou feliz quando viu a primeira praia lisa sentindo-se seco como pedra. Mandou um belo arco-íris e a arca bateu em uma encosta firme descendo os animais e os últimos homens que dariam ao mundo um recomeço.
Travou uma aliança prometendo não mais se perturbar e destruir a própria criação. Os animais correram o mundo e daquela única família originou-se de novo toda a humanidade.
Sempre que conto, ou reflito, ou medito sobre essa história me bate uma terrível pergunta:
- Não seria melhor Ele ter estourado uma veia no cérebro de cada um? Precisava ter destruído tudo, até mesmo as inocentes libélulas?
Por essas e outras, e tantas que ainda há, prefiro escrever ficção dando-lhe ares de realidade. E a cada texto, e a cada crença, e a cada mundo que construo ou destruo, pergunto:
- Que foi que eu fiz?