boa sorte em vermelho
Ao passar o batom em seus lábios, eles se abriram num sorriso enviesado, mas sem emoção.
Suspirou e fechou os olhos para o espelho. Aquela era uma sensação conhecida. HÁ algum tempo já havia aprendido a confiar em seus instintos, no seu sexto sentido. Sabia que cometia um grande erro ao se arrumar, colocar sua melhor roupa e usar seus melhores brincos naquela noite. Não devia ter aceitado aquele convite, Na verdade, não devia ter dado corda aos acontecimentos que haviam trazido-a até aquela noite.
Com as mãos apoiadas na pia, abriu os olhos e contemplou o cabelo arrumado num belo rabo-de-cavalo no alto da sua cabeça. A cada respiração uma baforada de realidade a invadia.
“Você não é vidente, pode ser que seus pressentimentos falhem”
“Mas eles nunca erraram antes, e eu sinto que estou cometendo um erro”
O que fazer então?
Encarou-se novamente. Seus olhos delineados faiscaram para o espelho. Eles diziam para que desistisse. Para que confiasse no seu tão poderoso instinto, pegasse o demaquilante na gaveta, retirasse os saltos altos e se enrolasse nas cobertas para assistir um filme sozinha. Apenas com a sua taça de vinho do porto.
Porém sua boca, avermelhada pelo batom e umedecida pelo gloss se abriu lentamente em outro sorriso, dessa vez verdadeiro. Mordiscou-a e deixou-se pensar com o coração. Ele lhe disse que passasse mais blush, colocasse um decote maior e saísse para o que a noite lhe reservava. Seu peito vibrou visivelmente quando seus pensamentos entraram à esquerda numa trilha há muito esquecida.
E então ela entrou em seu quarto e pegou o casaco que já a esperava no encosto da cadeira. Parou em frente ao espelho uma última vez, apenas para constatar o quão fantástica estava. E sua boca sibilou novamente. Praticamente dizendo-lhe para deixar pra lá toda essa história de pressentimentos. Para ela se dar uma chance de ser feliz e conviver com o mistério de não saber se vai dar certo. Ela se virou e apagou a luz do quarto enquanto alcançava a bolsa. Trancou a porta da casa no exato instante em que seu celular vibrava anunciando uma mensagem:
“Já estou aqui, te esperando... Vem logo!”
Suspirou e desceu correndo as escadas para pegar logo aquela chance de ser feliz, mas antes, um último sorriso de boa sorte com os lábios marcados em vermelho.