PLACAS, BERÇO, LIMÕES E MORCEGOS

Indo para Lagoa Santa, após enfrentar com certo receio, quase medo, de pegar novamente a direção de um carro, fez-se necessária a observância das placas e faixas.

“Acredite nas placas” – fiquei a pensar... qual fora a motivação de se escrever isso? Acredite, a colocação destes símbolos foi feita por quem entende do assunto; a setinha (metade de um quadrado) indica mesmo que está próxima uma curva fechada – ACREDITE! A vaquinha é o sinal de que pode-se sim cruzar com animais na pista, olhe aquele coitadinho morto, terá sido vítima de um/a condutor/a incrédulo/a? O antigo “Respeite as placas” era até mais entendível, mas o ACREDITE me fez “pirar o cabeção”. Que mensagem ou programação psicológica estará por trás deste crer? Olhe e creia!

Dormir no campo é sempre muito bom, se não fossem os insetos irritantes, o tic tac do relógio na sala, o ronco do vizinho de quarto, o despertador gritando as quatro para o tirador de leite levantar e as curicacas curicacando as sete da manhã. Fora as revoadas dos morcegos perto da nossa cabeça. Meus companheiros de quarto eram dois, não saberia dizer o sexo deles, contudo chamei-os de Assombrado e Assombroso. Para não me horrorizar com a companhia negreira, ficava imaginando-os comendo as frutinhas do cerrado. São até animaizinhos estilosos, pela manhã ainda na cama, ouvia um suave barulhinho de asas: com a lingüinha faziam a toalete matinal. Lembrei-me de um episódio da infância movido às crendices familiares – minhas primas e eu passando sangue de morcego nas axilas. As boas tias pegavam o próprio morcego e a gente tremia de pavor ao sentir o bicho raspando no “suvaco” – pra não nascer cabelo... e o pior é que tinha de ficar um tempo com aquele sangue secando na pele, ô trein besta!

Quando já ia me apegando aos bichinhos, qual não foi minha surpresa ao ver minha mãe chamando meu padrasto para tentar matá-los:

- Mas mata como para não furar a telha?

- Com limão.

Limão??? Que destino cruel, as frutas que são para eles a vida podem apresentá-los à morte ingrata. O padrasto me contou meio risonho que um dia a “limãozada” foi tão certeira que matou pai e filho, ou mãe e filha, ou as variações possíveis de gênero. Ainda bem que ele estava ruim de pontaria neste dia.

Nos aposentos da roça também há um berço. Perguntei outrora por que não haviam dado fim na inutilidade ainda. Minha mãe só respondeu:

- Esse berço é muito bom.

Deitada naquela cama de casal, ora olhando o telhado, ora a janela, repentinamente decidi:

- Terei um cria para colocar neste berço.

Não sei porque, mas meu namorado diz que o berço é mal assombrado...

Lígia Martins

02/08/2009

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 06/08/2009
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