SÉRIE: MULHERES DO BRASIL – A ROMÂNTICA

Rebeca sonhava com um casamento regido pelas estrelas. O que, exatamente, esta expressão queria dizer nem ela sabia. Quando lhe perguntavam, respondia falando de sonhos, de príncipe encantado, de lua de mel de outro mundo, de cerimônia com véu e grinalda, de um banquete para mil convidados... Tudo isso realizado num castelo medieval, especialmente locado para a ocasião, além de decoração, buffet e o vestido assinados por renomados especialistas.

Uma assessoria seria contratada somente para certificar-se de que os melhores estilistas, decoradores e chefs seriam encontrados e trazidos para dentro do projeto de casamento dos sonhos de Rebeca. A menina era uma inveterada sonhadora. Do tipo que vivia sempre no mundo da lua; imaginando coisas; viajando por mundos habitados por príncipes e princesas; onde charretes puxadas por cavalos brancos, de crinas aveludadas, ganhavam as pradarias esporeados pelo vento. Neste mundo de sonhos de Rebeca, tudo era possível num estalar de dedos...

Conheci-a num colégio público na periferia do Rio de Janeiro. A menina era o que se poderia chamar de romântica incorrigível. Em que se fundamentava tal comportamento, não era difícil de explicar. Parte dele era originário da própria faixa etária: meninas adolescentes são sempre eternas sonhadoras. Outra parte pode ser creditada ao romantismo exagerado e idealizado que a mídia, a música e a moda atribuem às meninas, incentivando-as a determinado tipo de consumo. Ainda outra, tinha tudo a ver com o binômio: condição social e estética que dançava na órbita sócio-cultural de Rebeca. Por ser pobre, almejava ardentemente uma ascensão social. Por outro lado, por ser bela, isso era interpretado pela mocinha como moeda suficiente para a tão almejada inserção na elite social de sua cidade.

Não restava dúvida que Rebeca era linda. Com seus quinze anos recém-completados, estatura acima da média, corpo de sílfide, ela chamava a atenção por onde quer que andasse. Esbanjava charme e elegância. Mas, sua principal característica era o romantismo. Vivia a conversar com as coleguinhas sobre seus sonhos com príncipes encantados e quejandos. Andava saltitando como quem não está nem aí para o que ocorre ao seu redor, pois seu mundo lhe era próprio, peculiar e não se importava com os outros: quem quisesse que se aproximasse dela, pois existia para atrair. Apesar de já mocinha, tinha jeito de menininha.

Só havia um problema com Rebeca. Era linda, sonhadora, bela e romântica. Desejada por todos, não lhe seria difícil encontrar alguém, mas ela estava só. Rebeca não tinha namorado. Na verdade, Rebeca não namorava ninguém; embora muitos pretendentes surgissem a todo o momento. O tempo foi passando, e nada de Rebeca realizar seu sonho. Continuava romântica, embora em seu mundo real não se confirmasse suas histórias e devaneios de moça casadoira. Conquanto fosse sempre o centro das atenções, tal a sua beleza, alguma coisa não estava funcionando como desejava. Os que a amavam eram pobres; os que eram ricos, não a amavam, só queriam comê-la! E ela resistia. Isso tem quase dez anos. Ela continua solteira, virgem e sonhadora. Romântica como ninguém, ainda aguarda seu príncipe encantado. Será que ele aparecerá? Será que ela vai se casar?

Já está com quase vinte e cinco anos. A idade limite. A idade do perigo. É bem provável que ela tenha que rever seus conceitos: ou o amor ou a riqueza. Neste mundo em que vivemos é bem raro esta combinação. Até porque se ela atrela a condição de ser rico, para o pretendente à sua beleza e virgindade; está reeditando a antiga prática do dote: “pode levar minha filha, mas tem que deixar um dote”. Neste caso, o dote ficaria para ela mesma. É um caso difícil. Romântica, sim; mas só... Só com sua ilusão. Vale a pena?

ALEX GUIMA
Enviado por ALEX GUIMA em 12/06/2006
Reeditado em 12/06/2006
Código do texto: T173917