Escarro claro
Simplesmente quando faltou luz ela disse que iria embora. Já tinha outro emprego mais ou menos claro na mente e não ia ficar mais nessa lenga-lenga de que o funcionário tem que farejar a merda que gruda no sapato do patrão. Não, uma ova. Tudo estava escuro na empresa, até o funcionário mais claro de pele estava negro. A tarde também estava para pouca luz. Dizem que foi um pipoco que o poste deu – será que deu a pirola na Celpe meu irmão, tá tudo apagado, até os sinal tá apagado, meu irmão véi, como vou fazer pra ir pra casa nessa situação. E logo hoje que eu estava doido para dar uma lapada na nega véia logo cedo, abrir uma gelosa e depois ver o Náutico tomar no cu na mão do Corinthians, porra doido – desabafou a flanelinha nervoso. Dois estudantes de física olhavam o semáforo abestalhado – meu irmão, o sinal mais bonito todo de preto, imagina se a cidade toda fica sem luz – e foram imaginando. E nada de chegar energia. Seus amigos de trabalho sem saber o que fazer olhavam um para outro, a melhor profissional da casa foi embora, e a agora? Ela arrumou tudo, cabelo, maquiagem, o emocional e o sorriso. Desceu as escadas por dentro do breu dos corredores. Todos os funcionários já tinha feito o mesmo. Era uma das últimas a sair desse lugar e o eco de seu salto afastavam a poeira para debaixo dos moveis. Fazer o quê se não tem o que fazer. Era o discurso de muitos funcionários que iam embora. Ela desceu as últimas escadas na escuridão. Deu tchau aos que sobraram. E uma coisa era certa. Apesar da luz ainda não ter chegado a lâmpada da sala do chefe. Ele no escuro com os papéis calmos e brancos. Juntava as mãos em concentração e via aquela mocinha galega de lá de cima afastando a escuridão com seu luminoso coração.
A Thaíla Correia, com todo amor.