Histórias de pessoas que não tem o que fazer, parte I

São quatro horas da tarde de uma segunda-feira

De que horas a gente larga mesmo Robson?

Seis, seis horas. Camarada.

Puta merda esperar até seis da noite para finalmente deixar isso aqui e enterrar a boca numa cerveja, não quero nem saber que hoje é uma segunda-feira.

Oh, Lúcia, Lúcia, de que horas a gente pode fechar isso aqui?

Seis, seis horas. Meu bem.

Nossa, seis horas, quando estamos desempregado é uma desespero só. Ficamos atirando na escuridão na esperança de um cadáver lá dentro gritar por nós ou acertar numa mocinha bem bonita que vá simpatizar-se com o assassino.

Ei Lucas, de que horas a gente pode finalmente sair correndo daqui?

Seis, seis horas rapaz.

É como se as horas fossem as piores vilãs ao invés da doce irmã. Essa porra não passa, pela janela nenhum um trem passa. É como se o tempo ganhasse um aspecto doentio e velho. Não andasse e nem desse nenhuma esperança que o dia finalmente vai passar pela avenida principal.

Olegário, Olegário, de que horas a gente sai para se encontrar com aquela loirinha gelada? Hein?

É às seis, às seis horas, aguenta o tranco sangue bom.

Beber a única província que Deus deu, encher a boca de cerveja e gritar com a mulher e com os filhos, só isso nos resta. O resto da classe operária, só isso nos resta, me embriagai patrões e outros opressores. Dope seus funcionários quem sabem assim eles não suportam em trabalhar oito horas, só assim sabem que o tempo é uma coisa insignificante na vida de um homem e que gastamos o dobro de horas e tempo em vida, tentando descobrir que horas a gente sai para um maldito chope. Quê vida, a vida bem que poderia começar mal para terminar boa. Ser uma criança num pedaço de infância injusta com pais que sofrem por causa da injustiça social. Nada de Xuxa nem Balão Mágico, tão pouco aventuras. A realidade nua e crua, pouco lucro e muito trabalho escravo. E depois, depois terminar como um adulto correto e fiel a sua esposa. E nessa, fosse depositada toda sua necessidade de sexo. Educar filhos bem paridos, porque filhos mal paridos é o resultado de sociedade fracassada. É só isso que eu quero bando de porras e filhos da puta, sentar na beira da praia de Copacabana às dez da manhã, abrir meu peito para um lindo verão e minha boca para um chope. Ganhar a negona que passa rebolando por toda via pública, porque aquilo ali concentrado é muita carne para uma bunda. No fim da tarde caminhar com o salário no bolso sentar num botequim desses bem frequentados por intelectuais. Imitar o Chico Buarque e ganhar a garçonete, mulata lindona que deixa cair os seios sobre o atendimento. De noite fumar alguns cigarros de sabor, deslizando pela avenida com terno mais bonito. Levar para casa uma mulher bem branquinha bem menina, bem mocinha. Umas dessas que ganhamos no papo mole. Isso que é vida, fuder sem trabalhar, pois fode-se muito bem quanto esta sem trabalho.

Robson, Lúcia, Lucas, Olegário. Que horas são porra? Deixem de lenga-lenga e me digam que o meu tempo já passou. Já deu caralho.

Januário, ainda são quatro da tarde, fuma um cigarro, vai ver e-mail, relaxa cara. Falou Robson.

Quer saber todos vocês, vão se fuder, não fico aqui mais nenhum minuto.

Antes da seis Januário foi demitido. Mas teve seu chope sem atraso.

Aldemir Suco
Enviado por Aldemir Suco em 04/08/2009
Código do texto: T1736796
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