A CONQUISTA

Desde que Ellen mudou-se para o novo condomínio, sentiu que sua vida tomaria um novo rumo. Mudou-se forçada pela situação que o destino lhe reservou. Há mais ou menos, um ano e meio, seu esposo subitamente faleceu, deixando-lhe duas filhas pequenas, uma com sete e outra com oito anos. Moravam numa casa grande e confortável, mas se sentiam inseguras, diante da grande violência que assola os bairros da cidade.

Então, para maior comodidade e segurança ela resolveu alugar sua casa e mudar-se para um apartamento. Ficaria mais próximo a escola das crianças e também do seu trabalho. Tinha que agir de forma conveniente; agora era uma mulher sozinha e tinha que ter jogo de cintura para conduzir a vida.

A princípio, sentiu uma enorme diferença, entre morar numa casa isolada, que entrava e saia sem dar satisfações a ninguém e agora era regida por normas do condomínio. Mas tudo bem, afinal, isso era necessário para manter sua família em segurança.

As crianças logo fizeram amizades e se sentiram a vontade. Porém, Ellen, apesar de sua juventude – no auge de seus 38 anos, é uma mulher recatada e religiosa; todos os dias quando retorna do trabalho, só deseja ficar em casa na companhia de suas filhas; por ordem na casa e descansar. Uma vez por outra vai à igreja ou aos eventos ligados ao trabalho.

Por ironia do destino, ao mesmo tempo em que ela, também chegou ao condomínio João Paulo, para ocupar o apartamento em frente ao seu; um homem suavemente maduro, com idade de aproximadamente 43 anos, profissional liberal, bastante atraente e solteiríssimo.

No período da mudança, encontraram-se algumas vezes e trocaram algumas palavras cordiais. Ele sempre muito gentil, oferecia ajuda para o que ela precisasse, mas ela simplesmente agradecia, e, jamais recorreu aos seus préstimos.

Passaram-se alguns meses... Chegou o período de férias das crianças, e, estas viajaram para a casa dos avós. Ellen teve que ficar sozinha; tinha que trabalhar. Numa dessas noites, logo que entrou no apartamento, depois de um dia estafante de trabalho, soa o interfone. Ellen atende de imediato. E para sua surpresa, era o seu amável vizinho.

Este, meio sem jeito, com uma desculpa meio esfarrapada, disse-lhe que a observava há muito tempo e via que ela estava muito sozinha, igualmente a ele e sugeriu que se encontrassem para conversar um pouco. Ela de pronto negou tal possibilidade, informando-lhe que jamais se sentia sozinha, tinha suas filhas que lhe preenchia todos os espaços. Ele insistente, indagava se ela ficaria de luto o resto da vida; e começou a falar que compreendia e respeitava os sentimentos que ela guardava pelo falecido marido, mas a achava muito jovem para continuar sozinha. Precisava dar um novo colorido à vida.

Ellen não pode suportar tais comentários – chateou-se e desligou o interfone.

Na noite seguinte, logo que entrou no apartamento, mais uma vez o interfone chama... Era João Paulo novamente. Dessa vez, descaradamente, afirma que estava observando sua chegada, ansioso. Estava com fome e pensou em jantarem juntos. Ellen mais uma vez, diz não. Pede para que ele não ligue mais, pois está incomodando-a com esse assédio. Não deseja se interessar por ninguém. E desliga o interfone.

João Paulo é insistente e passa a sentar-se todas as noites em sua varanda, para olhar os movimentos do apartamento de Ellen. Tenta uma aproximação a todo custo, mas Ellen é teimosa, não cede.

As crianças voltam das férias. O apartamento volta à normalidade. Mas João Paulo continua insistente. Agora, descobriu o número do celular de Ellen. E para não entrar em conflito com as crianças, liga para o celular, quando percebe que já adormeceram. Confessa a Ellen, que se apaixonou por ela. Ellen desconversa. Acredita ser mais um truque de um conquistador inveterado. Não quer correr o risco de apaixonar e se arrepender. Prefere ignorar, passando a tratá-lo com grosseria.

Então, diante de tanta rejeição, João Paulo resolveu mudar de estratégia. Passou a ligar pela manhã e a tarde. Ellen começou a ficar exasperada a cada ligação. João Paulo por sua vez, começou com uma “estratégia de choque” – falar para Ellen que estava começando a se decepcionar com ela. Falou que ela era grossa, mal-educada e insensível, que estava desconhecendo seu próprio gosto refinado, por mulheres educadas, pois apaixonar-se por ela com esse comportamento, não era típico de “seu eu”. E assim continuou por vários dias...

Ellen começou a pensar que estava vencendo, se ele estava decepcionado, não mais lhe telefonaria, mas, tamanha foi sua surpresa, pleno final de semana, em sua madrugada de sonhos, o telefone toca: era João Paulo a dizer-lhe que, aquela mulher “grossa” arrebatou sua alma numa alucinada paixão, e, não o deixava dormir...

Cellyme
Enviado por Cellyme em 02/08/2009
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