A CONVIDADA

Matilde era apaixonada por velórios. Prestativa nos momentos em que era preciso chorar, rezar pelo defunto, segurar a alça do caixão e até sorria quando alguns saudosos amigos do falecido lembravam os velhos tempos. Matilde era figurinha carimbada nos velórios em sua cidade. Estes não tinham a menor graça sem a sua presença. Era uma espécie de consoladora dos aflitos.

Por ocasião da morte de uma pessoa ilustre de sua cidade, não fora convidada a participar do velório, já que este estava restrito somente aos parentes mais próximos e amigos, um número mínimo de pessoas. Então para que não faltasse a este velório importante, mas não mais importante do que todos os outros que já participara, resolveu colocar uma nota no jornal da cidade se convidando para o funeral. E lá estava Matilde muito bem posta diante do defunto fazendo as suas homenagens. Os parentes e amigos do ilustre falecido estavam perplexos por verem o quanto àquela mulher chorava sobre à beira do caixão. Aqueles poucos convidados pareciam estar numa festa e não num velório e aquilo incomodava Matilde. Gente sem sentimento. Alguns mais incomodados com o pranto daquela que mais parecia uma amante e não a esposa do morto, descobriram a certa altura que aquela mulher não tinha nada a ver com o falecido. Tiraram-na do luxuoso recinto quase carregada, mas antes de sair e atarracada na borda do caixão sentiu-se completamente feliz por cumprir mais uma vez a sua missão quando o defunto muito bem alinhado e coberto por belíssimas flores piscou um dos olhos em sinal de gratidão.

Adhemir Marthins
Enviado por Adhemir Marthins em 27/07/2009
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