Perseguição ao idoso
Perseguição ao idoso
Em meio a todo o caos da metrópole insensível, Sr. Fernando mantinha seu ritmo lento e constante, caminhando pelo parque arborizado. Para a alegria do velho, sempre a secar a testa com o lenço, o sol era dono de todo o céu, tornando o passeio despreocupado ainda mais atraente.
Após mais um quarto de hora, uma sensação estranha fez Fernando inquietar-se. Seu velho coração, já saturado dos sustos da vida, como se já não bastasse, disparou enquanto notava que alguém o observava, ao longe. Conforme suas condições físicas ainda permitiam, o velho pôs-se a acelerar o passo, ofegante, para mais adiante ter confirmação de que realmente estava sendo seguido. Fernando desesperou-se a andar, esbugalhando os olhos na busca de alguém que o acudisse, mas não havia sinal de alguém naquela reta do parque, a não ser o seu perseguidor. Nessas horas, os gritos por socorro, ou mesmo pedidos de misericórdia, são o que passam em mente, nem que seja por instinto, mas se andar daquele jeito já estava sendo difícil para tal ancião, o que dirá de gritar com sua voz fraca enquanto tenta correr.
No ápice da corrida pela sobrevivência, Sr. Fernando sabia que se não fora alcançado de início, assim como até o momento, era apenas por questões referentes a inabilidade de quem o seguia, pois a curta perseguição, com não mais de oito minutos, estava num ritmo lento de caminhada, algo que, até mesmo, soaria tranquilo. Tais condições chicoteavam a mente de Fernando, pois demonstravam a ele que, seja lá quem era o investidor, não queria apenas alcançá-lo, mas sim, além disso, torturá-lo, numa espécie de teste sórdido com um homem de idade avançada, retardando a si próprio para prolongar a tormenta do velho, somando mais sofrimento a Fernando.
No rápido passar de olhos por si mesmo, Fernando viu as marcas cor de zarcão em suas mãos e articulações, fruto de algumas quedas ao longo da fuga, as quais o fizeram estar repleto de terra e sangue. Para um homem de tal idade, as quedas, assim como todo sofrimento, são coisas que têm grande parte impedida de o afetar, reafirmando o fato de que os calos da vida não cedem facilmente. Apesar de todo o ódio pela situação, Fernando encarou o perseguidor com os olhos enquanto seu braço era segurado fortemente, para que então soasse uma voz familiar: “Tio Fernando, esqueceu os óculos lá em casa, de novo!”.
Mateus, com a muleta sob o braço, substituindo a inexistente perna direita, acompanhou seu velho tio, aos risos, até sua casa.