OS IPÊS MULTICOLORIDOS, O HOMEM DE CHAPÉU E A VALA NEGRA
Pelas chuvas primaveris que caia fina intensa solidária e apaziguante,
redonda está a velocidade que eu tinha em mim, via tudo isso pela janela embaçada, os ipês que estavam enfileirados indianamente, todas as cores lindas dos meus olhos plácidos à volver, passava em passos largos didáticos e firme um homem conhecido da minha memória, eu insistia com meu olhar e localizava-o sem que soubesse que eu estava a observar-te, mas eu fiquei na espreita até não mais vê aquele homem esguio que usava um chapéu de cor cinza-verde-musgo: a minha intenção era poder caminhar junto com ele na orla da vala negra que vive na nossa CIDADE FANTASMA que
ano após ano, que este estado de coisa não muda, e fico eu a contemplar a beleza exuberante dos ipês multicoloridos que paralelo a vala negra um contraste infinito nesse dia que para mim ainda vai faltar muita vergnha política para mudar o que vejo, o chuva fina abençoa-me, abençoa os ipês, abençoa o homem de chapéu que passa
com uma imparcialidade extraordinária: como se tudo estivesse limpo, salutar, nobre e naturalmente correto, abençoa aos que querem governar, abençoa de graça abençoa todos que querem ser dependente da natureza, a orla negra não pediu para existir, o homem
nasceu chorando um dia, e os ipês apesar do sofrimento florescem com uma roupa nunca vista pelo meus olhos túmido que não se cansam de verificar que algo estar errado, que alguém de fato e de direito faça da luz gratuita que nasce no conforto secular
das arvores que protegem o chão dos pedrestes e não causa-lhe dor ao universo insensível vive de doação da urina de uns e outros que por falta de banheiro público, faz do seu tronco momentos de descarregar todo seu ato fisiológico que resiste ao tempo, até quando eu verei este crime com a natureza, em frente ao vão dos ipês, o homem de chapéu cinza-verde-musgo e a orla negra que não sabe
dizer mudei.