DA SIGNIFICAÇÃO DA MORTE DE UM PÁSSARO

Aconteceu num desses momentos tão comuns na vida da gente. Momentos em que não damos aos fatos a devida importância, passando-nos desapercebida.

Era uma manhã de domingo. Fazia sol e eu aproveitava para uma pequena arrumação. Da janela do meu quarto, vi quando ele chegou e passou para o terraço, onde estavam algumas gaiolas com pássaros. Tinha especial predileção por uma graúna. Amava o seu canto e, sempre que o ouvia, chamava minha atenção para o seu som melodioso. No entanto, desde a véspera, a pobre graúna estava um tanto silenciosa. Percebemos que ela estava um pouco triste, indício certo de que estava adoentada. Qual seria a causa dessa doença? Será que algum gato mais audaz havia conseguido machucá-la? Muitas vezes acordávamos à noite com o miar dos gatos, ansiosos por saciar sua fome saboreando os pobres pássaros.

Quando ele entrou, abriu a gaiola e tomou nas mãos a graúna doente. Notou então que ela agonizava, e, chegando junto à janela, pediu-me algum remédio... Lembro-me que lhe dei uma pomada qualquer, pois ele havia encontrado um pequeno ferimento debaixo de uma das asas. Passou o medicamento e ficou a acariciar o pequeno pássaro, mas este não dava sinais de melhora. Parecia entristecer cada vez mais. Ele ficou angustiado: queria a todo custo salvar aquela vida.

Deixei-o às voltas com sua graúna e fui cuidar dos meus afazeres. Não demorou muito e ele chegou com o pássaro inerte em suas mãos:

- Ele morreu!

E as lágrimas afloraram-lhe aos olhos. Não pude me conter vendo tamanha emoção pela morte de um simples pássaro, e fiquei a zombar de suas lágrimas...

Hoje compreendo o verdadeiro significado daquele choro: ele demonstrava a sensibilidade daquele espírito. Era uma prova de como sua alma era simples, capaz de se emocionar com acontecimentos aparentemente insignificantes como a morte de um pássaro.

Passado algum tempo, ele também se foi. Como ele havia tentado salvar aquele pássaro, tentei também salvar sua vida. E não consegui...