O PRATO DO DIA
- Qual é o prato de hoje, amor?
- Vou fazer frango ao molho pardo!
O marido olhou para uma gaiola no canto da cozinha e viu um frango branco, pescoço erguido, crista vermelha, olhando-o intensamente, alheio ao seu destino traçado para os próximos minutos. O marido não sentiu acusação naquele olhar, mas se justificou, falando mais alto que o habitual, como se desculpasse com o animal.
- Se dependesse de mim, nunca ia comer frango ao molho pardo!
- Você não tem coragem de matar galinha!
- Não é falta de coragem. Vivo na estrada. Um caminhoneiro vai ficar em casa pra matar galinha? – falou, abraçando a mulher.
- Papo... – brincou a mulher – É falta de coragem mesmo!
- Onde estão as crianças?
- As crianças, de 18 e 19 anos, vão almoçar nas casas das namoradas. – contou a mulher, sorrindo.
- Então, enquanto você assassina o frango, vou ver TV.
Decorridos uns dez minutos, o marido voltou à cozinha. A mulher estava de costas, mas ele pôde vê-la segurando o frango pelos pés e mergulhando-o numa panela de água fervendo. Comovido com a cena, voltou novamente à sala, ao som de um tiroteio que vinha da tela. Era a polícia que subia o morro de uma favela e trocava tiros com bandidos. Ele aumentou o volume da TV, no que a mulher chegou na porta e perguntou indiferente.
- Que favela é essa?
Antes mesmo de ouvir a resposta, ela retornou a cozinha, ajeitando o avental.
O marido reduziu o som da TV, enquanto o barulho de balas aumentava cada vez mais. Arrastou uma cadeira e jogou as pernas sobre ela, procurando relaxar o corpo, quando, sobrepujando o barulho do tiroteio, gritos alucinados chegaram aos seus ouvidos. Ele correu. Ao chegar na cozinha, viu a esposa, desesperada, olhando para um prato. Abraçando-a novamente, ele procurou saber.
- Que foi, amor?
- O sangue...
- Que aconteceu com o sangue, amor?
- O sangue do frango... despareceu!
O marido, sorrindo, tentou fazer piada.
- O vampiro deve ter...
- ... estava no prato. Sumiu!
O marido sorriu mais ainda, abrançando-a:
- Você não assiste TV? Os sanguessugas devem ter passado por aqui!
A esposa, com um olhar furioso, desvencilhou-se dele, pegou uma vassoura e seguiu rumo à pia. Acompanhando-a com o olhar, ele a viu levantar uma cortina que servia de divisória para esconder vasilhas debaixo da pia. Lá embaixo, escondido, estava um gatinho, inocentemente, lambendo os beiços.
- Qual é o prato de hoje, amor?
- Vou fazer frango ao molho pardo!
O marido olhou para uma gaiola no canto da cozinha e viu um frango branco, pescoço erguido, crista vermelha, olhando-o intensamente, alheio ao seu destino traçado para os próximos minutos. O marido não sentiu acusação naquele olhar, mas se justificou, falando mais alto que o habitual, como se desculpasse com o animal.
- Se dependesse de mim, nunca ia comer frango ao molho pardo!
- Você não tem coragem de matar galinha!
- Não é falta de coragem. Vivo na estrada. Um caminhoneiro vai ficar em casa pra matar galinha? – falou, abraçando a mulher.
- Papo... – brincou a mulher – É falta de coragem mesmo!
- Onde estão as crianças?
- As crianças, de 18 e 19 anos, vão almoçar nas casas das namoradas. – contou a mulher, sorrindo.
- Então, enquanto você assassina o frango, vou ver TV.
Decorridos uns dez minutos, o marido voltou à cozinha. A mulher estava de costas, mas ele pôde vê-la segurando o frango pelos pés e mergulhando-o numa panela de água fervendo. Comovido com a cena, voltou novamente à sala, ao som de um tiroteio que vinha da tela. Era a polícia que subia o morro de uma favela e trocava tiros com bandidos. Ele aumentou o volume da TV, no que a mulher chegou na porta e perguntou indiferente.
- Que favela é essa?
Antes mesmo de ouvir a resposta, ela retornou a cozinha, ajeitando o avental.
O marido reduziu o som da TV, enquanto o barulho de balas aumentava cada vez mais. Arrastou uma cadeira e jogou as pernas sobre ela, procurando relaxar o corpo, quando, sobrepujando o barulho do tiroteio, gritos alucinados chegaram aos seus ouvidos. Ele correu. Ao chegar na cozinha, viu a esposa, desesperada, olhando para um prato. Abraçando-a novamente, ele procurou saber.
- Que foi, amor?
- O sangue...
- Que aconteceu com o sangue, amor?
- O sangue do frango... despareceu!
O marido, sorrindo, tentou fazer piada.
- O vampiro deve ter...
- ... estava no prato. Sumiu!
O marido sorriu mais ainda, abrançando-a:
- Você não assiste TV? Os sanguessugas devem ter passado por aqui!
A esposa, com um olhar furioso, desvencilhou-se dele, pegou uma vassoura e seguiu rumo à pia. Acompanhando-a com o olhar, ele a viu levantar uma cortina que servia de divisória para esconder vasilhas debaixo da pia. Lá embaixo, escondido, estava um gatinho, inocentemente, lambendo os beiços.