Fedor

FEDOR

Queria alguém vazio, sem conteúdo sensível, ingenuamente esperto para ser bom o bastante para mim.

Olhos livres de outras almas, pele não mascarada por outras digitais. Coração oco de outra saudade. Cheiro nenhum, lembrança nenhuma, um ser quimérico, inexistente, mas que me faça feliz. O inferno são os outros. Sou mais feliz sozinha, e seria ainda mais se não houvesse mais ninguém! Sou só eu, e é assim que deve ser!

Olhar profundamente no negro daquele circulo perfeito e ver vidas passando, seres sendo criados ilusoriamente. Espelho do medo. Reflexo assombroso. Sou um monstro sanguinário, frio. Sou capaz de fazer explodir com a força das minhas mãos este circulo negro perfeito. Cegar, ensurdecer, emudecer, fazer morrer! Vida nenhuma, alma nenhuma, corpo nenhum deve entrar no meu caminho, na minha vida, na minha alma, no meu mundo particular. Mataria e jamais morreria! Deixaria pendurado com um pau no ânus todos estes intrusos, sujos, porcos fedorentos. Estes sorrisos, estes perfumes, estes sonhos todos são imundices que pesam na Terra. Relações de poder, vaidades vã, tudo é escroto, tudo isso é sujeira! O vazio de um quarto que esvazia também o ser, é bom, é o certo. É o que limpa! Purifica! Sou só, vazia, cheia de evaporações mal cheirosas, transbordando líquido espesso e escuro. Dos meus olhos jorram ódio em forma de pedras, sangra, dói e nunca cicatriza. O sorriso que trago as vezes neste rosto murcho e feio, é de ofensa, de desprezo, de falsidade, ele é uma flecha venenosa que acerta o meio das testas que o admiram. Sou um porco fedorento e vazio! Sou uma fruta podre e oca! Não há piedade em nada em mim. Não há gratidão, não há afeto, não há prazer, há apenas medo. Há patas imundas de fezes, que melam tudo o que tocam. Há um bafo esverdeado. Há cheiro de enxofre, há sonhos de morte, há sonos de vida! Há negrume, há nuvens baixas, cinzas, carregadas. Serei amada, desejada, idolatrada e terei os, ainda, porcos fedorentos arrastando suas babas e fezes por trás de mim. Porcos fedorentos amarão meu sexo fétido, minhas paredes imundas. Porcos fedorentos gozarão sangue! Sangue de morte, sangue de amor que não existe nesta Terra pesada de corpos esgotados e desnecessários. Porcos fedorentos morram todos pelo mal cheiro do que desejo!!!

Eu fedo como o mar e a Lua!

Eu fedo com cada gota de chuva!

Eu fedo como cada lágrima alheia que derramo!

Eu fedo como sorrisos!

O meu cheiro bom vem da morte!

Estou tentando limpar minhas mãos de barros vermelhos que as forçam a escrever o que liga estas mãos ao mais intimo do meu ser. Ser encurralado pelo barro vermelho, sufocado, pela falta de ar, imobilizado por filosofias diversas, mudo!

Meu ser grita, e o terceiro reino abre suas portas e diz; “Entre, eu também valho a pena!”

Ainda estou suja, imunda, encardida!

E eficiência do álcool se demonstrará num tanque de sangue e tripas como conteúdo...

Sai de mim mal cheiro!

Quero deixar de viver, de construir minha vida. Quero é viver no ócio e estudar, quero que seja construído tudo de uma vez! É chato viver aqui, e viver!

Se eu realmente tivesse pulado daquela ponte, como tinha planejado, muitos dos porcos fedorentos achariam ser a causa do meu suicídio!!!

290409

BCA
Enviado por BCA em 17/07/2009
Código do texto: T1704673
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