A COÇADA
A moça, ainda recatada, olhou atônita para o homem sentado no último lugar.
Indiferente que o observassem, punha vez ou outra a mão dentro da calça. Se apenas mantivesse a mão lá dentro — pensava a mulher—, não haveria problema algum. A partir do momento em que começou a brincar, tomou a atenção toda para si.
O homem olhava fixo para nenhum lugar e a mulher mantinha-se nele. Sua mão, num primeiro momento, pensou que desse apenas uma coçadinha, embora detestasse este hábito no marido, sabia que era natural, humano e perdoável. Passada a primeira impressão e susto de ver, iniciaram-se as carícias. A mão do homem movia ritmicamente sem que — e a mulher levaria um susto apesar de prever—nada se alterasse dentro das calças, ou como pensou ela: “que ele ficasse mais alegre”.
Outras pessoas passavam por ali e nada percebiam.
Ver a cena começou a incomodá-la.
Se ninguém percebia, não seria imprudência de sua parte prestar tanta atenção? Seria indiscreta vendo e intrometendo-se na privacidade alheia? E se ele percebesse, o que iria dizer?
Um sorriso safado iluminou seu rosto em meio a tantas perguntas.
Cruzou as pernas quando um estremecimento a fez retornar de suas fantasias. Envergonhada, mas nem tanto, olhou as pessoas a sua volta. Não pareciam ter notado e mesmo assim sentiu-se envergonhada.
Do lado, o homem tampouco havia notado, permanecia naquele estado, ao observá-lo novamente após um instante de distração, permanecia alheio ao que acontecia.
Ninguém preocupado e o homem ocupado ainda com aquilo que ela não queria nomear, também ela voltou a fazer.
Inicialmente, ainda tímida, acariciava as coxas com gestos suaves, sentindo a textura da pele... De repente, parou. Manteve-se pensativa. Tornou a colocar a mão debaixo da saia agora com mais força e sentiu.
Frenética e como se não houvesse tempo a perder, se levantou, olhou enfurecida para o homem que se manteve impassível e saiu. Ele, imperturbável, brincava ainda com a mão nas calças.
Correu enfurecida com a desigualdade e condição de fêmea.
Por mais que se esforçasse, não conseguia afastar a raiva. De súbito, parou em frente à casa que procurava e desabou em choro nos ombros da mulher:
— Dona Mercedes, prepara logo a cera que com pêlo e estrias uma mulher não pode ser feliz!