O despertar
Finalmente estava acordada, tinha despertado de todos aqueles sonhos insanos, absurdamente impróprios a alguém que mal fingia sorrir.
Tinha despertado de mais um de seus devaneios, agora estava naquele quarto tão escuro e vazio - ainda era noite e não havia nenhuma possibilidade do sol borrocar o céu de amarelado, não àquela altura das horas.
Ela ofegava, pois em seu sonho encontrara alguém a quem amava e que a amava. Ela acreditou, a pobre coitada! Mas que mal havia sonhar com o amor? Para ela era o fim, ao menos parecia.
Balançava a cabeça, negativamente, como quem quer espantar pensamentos, mas só o que conseguia era espalhar emoções. De repente seus olhos eram vazios, mas repuxados como quem tenta sorrir.
Lembrava-se do sonho. Em seus olhos haviam outros enormes, claros e repuxados com facilidade, logo apareceu um sorriso todo iluminado - supus que seria do tal amado, mas me atrevi a adivinhações.
Ele era todo encanto, só suspirava e a olhava, havendo recíproca, claro! Mas eu não entendia o medo, o ofegar, o desespero...
Num instante seus olhos se estreitaram, talvez minhas perguntas fossem respondidas.
Ele avançou para cima dela - um beijo, pensei. Não! A forçava. Ela não era tão forte quanto ele, não conseguia se libertar de seu "abraço" indócil. Foi arrancada de si, totalmente despida.
Sentia dor por todo o corpo e chorava, sufocada e sofrivelmente, pois ele lhe amordaçara a boca, prendera seus punhos e encaixara suas pernas no meio das suas.
Pousou a cabeça nas mãos e chorou, não estava mais lembrando, estava lamentando a recordação. Tocou partes do corpo, como se sentisse uma dor imensa, e alguns ais soltou junto ao murmúrio do choro. Não era sonho nada! Aquilo acontecera e ela desmaiara, aquele foi o momento em que despertou. Agora sim! Pobre coitada!
Ela já nem sabia onde estava, mesmo estando em sua casa, não tinha mais com quem contar.