A PROFESSORA DE PORTUGUÊS
Brasilina era uma ótima professora de português Os bons alunos a endeusavam, mas os relapsos (a maioria) a detestavam.
Nas vésperas de Vestibular, suas aulas particulares eram disputadas, pois, quem fosse seu aluno, estaria com a aprovação garantida, em português.
Professora, 24 horas por dia, todo o tempo estava observando e, quando podia, corrigindo os erros de gramática ou ortografia dos que a rodeavam.
Diariamente lia os jornais com uma caneta vermelha na mão e anotava todos os erros que encontrava. Depois escrevia criticando (na melhor das boas intenções), mas, os redatores a odiavam.
Quando jovem, Brasilina encontrou dificuldade para arranjar um namorado. Ela nunca namoraria alguém que não falasse e escrevesse corretamente e, como os puristas, entre os jovens, são raríssimos, dificilmente ela conseguiria encontrar algum.
Sua fama, no entanto, chegou ao Olimpo e Cupido resolveu dar uma mãozinha pra ela.
Afiou cuidadosamente duas setas e disparou-as em direção a Terra, com endereço certo.
Brasilina e Mayco conheceram-se e apaixonaram-se.
Ela não se conformava, a princípio, com o nome dele. Por que um casal de brasileiros põe no filho um nome estrangeiro? Já que tinham esse imperdoável mau gosto, pelo menos que o escrevessem em sua grafia original e não desse jeito, com aquele ridículo y espetado no meio.
O Mayco não era nenhum fanático pela correção gramatical, muito pelo contrário, era um professor de matemática, voltado para as ciências exatas e achava que a finalidade da língua era a comunicação e nada mais. Todo o resto lhe parecia besteira.
Entretanto, apesar das diferenças, os dois acabaram se casando, pois, o amor sempre consegue transpor as barreiras.
O casamento de Brasilina e Mayco seguiu o curso normal da maioria:
Empolgação... Decepção... Acomodação. ...
Mayco acostumou-se a ler os jornais rabiscados de vermelho e a encontrar os recados que deixava para ela, na porta da geladeira, devidamente corrigidos.
Brasilina não conseguiu acostumar-se com os deslizes gramaticais de Mayco, mas não se aborrecia por isso, repetia monótona e incansavelmente as mesmas coisas na esperança de que, um dia, ele aprendesse. Afinal, ela era professora e estava acostumada com alunos difíceis.
Mas, um dia, uma terrível tragédia desabou sobre o lar dos nossos dois heróis. Apareceu outra mulher na vida de Mayco, para desespero da Brasilina.
Paixão avassaladora, dessas que levam um homem a esquecer todos os valores, princípios, compromissos, responsabilidades, decência, etc. etc. etc.
Mayco resistiu o quanto pode, mas acabou acontecendo o inevitável. Resolveu deixar a Brasilina para ir viver com a outra.
No momento decisivo, no entanto, não teve coragem de despedir-se dela, olho no olho. Preferiu deixar um bilhete com aquelas velhas desculpas de cônjuge infiel:
" Foi muito bom, mas acabou.... Desejo que você encontre alguém que te faça feliz..."
Brasilina, afogada em lágrimas, olha a sua volta, ansiosa, procurando a caneta vermelha.
Nunca conseguiu entender, muito menos, se conformar com aquilo:
- Não sei o que ele viu nela! Fala errado, escreve mal, não deve saber, sequer, conjugar um verbo corretamente