ABISMO ENTRE OS PASSOS
Comprimida contra o peito, a pasta trazia todo o sonho do futuro que avistava.
As pernas doíam depois de percorridos todos os endereços. O sorriso tímido nas páginas deixadas.
Havia até uma promessa, não tinha razão para discordar que tudo fosse dar certo. Além do mais, falecido o pai, a esperança e determinação servira de consolo, mesmo que no silêncio do quarto, nas madrugadas acordada, chorasse.
Os cabelos penteados, a tristeza eternizada no olhar, saiu para o dia.
O vento soprava e a chuva não tardou.
Ainda sorriu quando o caminhão jogou água em sua roupa. Como não se importava, já que a roupa era indiferente, a pessoa também não se importaria.
Porta aberta e a espera.
A concorrência das vestes. Chegara sua vez.
Tudo dera certo igual aos outros dias em dera certo. Olhares precisos sobre seu corpo.
O telefone não tocou.
No mesmo ponto toda noite, as esperanças ainda contra o peito, no desânimo do olhar da mulher na calçada, sua imagem incompatível com a presença alva do poodle, um passo no asfalto, um cachorro branco, morreu como puta e não tinha importância.