ABISMO ENTRE OS PASSOS

Comprimida contra o peito, a pasta trazia todo o sonho do futuro que avistava.

As pernas doíam depois de percorridos todos os endereços. O sorriso tímido nas páginas deixadas.

Havia até uma promessa, não tinha razão para discordar que tudo fosse dar certo. Além do mais, falecido o pai, a esperança e determinação servira de consolo, mesmo que no silêncio do quarto, nas madrugadas acordada, chorasse.

Os cabelos penteados, a tristeza eternizada no olhar, saiu para o dia.

O vento soprava e a chuva não tardou.

Ainda sorriu quando o caminhão jogou água em sua roupa. Como não se importava, já que a roupa era indiferente, a pessoa também não se importaria.

Porta aberta e a espera.

A concorrência das vestes. Chegara sua vez.

Tudo dera certo igual aos outros dias em dera certo. Olhares precisos sobre seu corpo.

O telefone não tocou.

No mesmo ponto toda noite, as esperanças ainda contra o peito, no desânimo do olhar da mulher na calçada, sua imagem incompatível com a presença alva do poodle, um passo no asfalto, um cachorro branco, morreu como puta e não tinha importância.

Fabiano Rodrigues
Enviado por Fabiano Rodrigues em 10/07/2009
Reeditado em 10/07/2009
Código do texto: T1692288
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