Receio de que?
- O preconceito não nos vence homem de Deus – dizia seu pai ao velho negro que estava sempre pela sua casa para uma visita da tarde.
- não... - Prosseguia – é bobagem da parte deles! Materialistas dos infernos – concluiu.
Alan pouco entendia o assunto discutido ali tão quanto desconhecia o velho tão quanto seu pai o elogiava, porém tão quanto sua mãe sempre exigia dele e seus irmãos distância do homem. Ele não é um homem bom. Explicava ela ao pé do fogão preparando um ‘cafezinho’ a pedido do seu pai.
O velho tinha aparência bondosa, mas olhos sérios e que pareciam penetrar ao fundo de cada objeto em que lançava sua atenção. Concentrava-se muito neles... E é claro – no dia seguinte Dona Elvira, sua mãe, sempre sentia falta de algo simples, objetos pequenos: Uma flor do buquê artificial sobre a mesa de centro, colherzinha de umas das xícaras e certa vez até mesmo um botão de uma das almofadas.
Seu pai por outro lado batia o pé, exigia de todos uma melhor busca pela casa ou simplesmente esquecessem o assunto e ponto final. E a cada visita vespertina do homem negro e pouco falante algo novo desaparecia:
- onde está o meu cinzeiro?- Essa pergunta caiu como uma bomba e Durval enfureceu-se com a esposa naquele dia. E Alan, por sua vez os ouviu-os discutir e praguejar por horas enquanto os irmãos menores já dormiam. Contribua com sua obrigação – pensava – ouça-os e entenda que o mundo adulto se complexa ao máximo...
- sim – respondia a si mesmo no escuro – é mais difícil que parece, mas... Como chamo isso? Esse receio de minha mãe?
- Preconceito seria uma boa, amigo. Algo respondeu dentro de si e ele calou-se interiormente. Para um garoto de somente sete anos a palavra não soara bem e muito menos o tom daquela voz irritante...