A TROCA

A TROCA

Álvaro e Adriana casaram-se numa igrejinha no Alto-da-Boa-Vista. Foi um casamento pomposo, pois a família dela tinha poder aquisitivo bastante alto e fazia questão de demonstrar superioridade. Moravam na Barra da Tijuca num condomínio de alto luxo. Ele estava eufórico, doido que a cerimônia do casamento acabasse, para assinar logo os papéis, fazer parte da família e tirar o pé da lama. Assim que terminasse a faculdade, o pai dela prometeu lhe daria um cargo de assessor na empresa dele. Também não via a hora de partir com a Adriana para a lua-de-mel, porque embora tivesse feito várias tentativas, não conseguira sequer ver ou tocar os seios dela. A família de Adriana, além de rica era muito religiosa. Tinha até um irmão do pai dela que era padre em São Paulo, que, inclusive, compareceu à cerimônia. Ela, por convicção, dizia que só iria ficar nua na frente dele e ter relações sexuais depois do casamento. Tinha muito medo de não resistir, se entregar e depois ele não querer casar com ela.

Ela nunca havia namorado outra pessoa, rapaz, pelo menos. De vez em quando vinha à tona o boato de que ela gostava de uma colega, a Berenice. Comentava-se em pé-de-ouvido, que eram homossexuais. Elas dormiram juntas algumas vezes, mas sempre garantiu ao Álvaro que eram somente muito amigas. “Imagine: lésbica! Era só o que me faltava! Nem sexo antes do casamento com meu noivo eu admito, quanto mais me esfregar em outra mulher!” - Dizia contrariada.

O padre parecia estar fazendo de propósito, prolongando o sermão, o que estava deixando o Álvaro impaciente. Pior que depois ainda tinha a festa, os retratos e toda aquela lenga-lenga. Conclusão, só lá pelas duas da madrugada eles conseguiram ir para o motel para repousar. Na manhã seguinte iriam partir definitivamente para a lua-de-mel. No motel, apesar dos pedidos dele, ela se negou a fazer sexo, alegando que estava cansada, era muito tarde e teriam muito tempo para aquilo e que ele não iria morrer se esperasse mais um pouquinho.

Alguns meses depois do casamento Álvaro descobriu que Adriana sofria de mal psicológico que fazia com que tivesse aversão sexual, por isso a lua-de-mel passou quase em branco em termos de sexo. A primeira vez só se realizou depois de três dias, por conta de ela alegar sentir dor cada vez que ele estava prestes a consumar o defloramento. E assim continuou durante um bom tempo.

Quando voltaram da lua-de-mel, foram direto para a casa dos pais dela. Ela disse que estava cheia de saudades, não estava acostumada a ficar tanto tempo longe de casa. Só à noite foram para o apartamento que eles ganharam do pai dela, num prédio recém-construído. Por coincidência, passaram a ser seus vizinhos um casal também jovem: Sidnei e Carla. Ele era colega de Álvaro na faculdade e, por conta disso, também conhecia Adriana, que logo se tornou amiga de Carla, o que facilitou a intimidade entre os casais.

O problema de Adriana em relação ao sexo estava interferindo na relação conjugal, porque ela continuava a alegar vários motivos para não consumarem o coito. Quando muito ela aceitava as preliminares. Então, ele a convenceu a consultarem um médico terapeuta, que lhes explicou que a aversão sexual ou evitação fóbica nada mais é do que o sofrimento causado pela permanente necessidade de fuga de encontros sexuais com o parceiro, devido a sensações de desagrado, de medo, de nojo ou mesmo de repulsa, das coisas inerentes ao ato sexual. A razão da repulsa podem ser as secreções genitais. Em muitos casos, o simples pensar em sexo, o toque ou o próprio beijo já é evitado com angústia. O problema pode ser causado por qualquer trauma que tenha ligação mesmo que tênue com a sexualidade. Existe também outra hipótese que é a diminuição ou ausência total de fantasias e de desejo de ter atividade sexual. Simplesmente a pessoa sente que tanto faz ter sexo ou não, pois não faz falta para si, gerando problemas para o casal, principalmente quando o outro é muito ativo. “ Nós vamos investigar se há alguma coisa orgânica determinando a falta de interesse ou até mesmo aversão, como por exemplo: desequilíbrios hormonais, nódulos, infecções nos genitais ou o uso de algumas medicações que têm como efeito colateral, a diminuição do apetite sexual.” Disse-lhes o médico.

Iniciaram o tratamento, que poderia demorar algum tempo. Ela parecia que cada vez estava pior e a situação deixava Álvaro muito chateado, que acabava levando suas lamentações para o amigo casal de vizinhos. Carla, ao contrário de Adriana, era ninfomaníaca e não perdia a oportunidade de fazer sexo. Com elevado nível de excitamento, não controlava seus impulsos, porque uma mulher ninfomaníaca não consegue satisfazer totalmente seus desejos e, por isso, sente a necessidade de liberar a tensão, o que a faz perder o controle e não medir consequências quando se trata sexo.

Em algumas ocasiões, quando Sidnei não estava em casa, Carla, benevolente com o amigo, desolado, dava-lhe, com prazer, o tratamento adequado, incluindo tórridos momentos de sexo, satisfazendo a necessidade de ambos.

Assim perdurou a relação dos casais por alguns anos. Nesse ínterim, Adriana, mediante o acompanhamento terapêutico, conseguiu grande progresso e, aos poucos, passou aceitar o coito com seu marido, aliás, obtendo prazer, o que fortaleceu novamente a relação. Adriano, com isso, afastou-se de Carla, deixando de frequentar aos poucos a sua cama. Ela, obviamente não ficou muito satisfeita, apesar de naquela altura já tivesse dado dois filhos a Sidnei.

Curada, finalmente, do problema sexual que lhe afligia, Adriana queria dar um filho a Álvaro, também por insistência de seus pais que, desconhecendo o seu transtorno psicológico, já vinham há muito tempo pedindo ao casal que lhe dessem um netinho. A situação se inverteu, porque ela queria ter relações sexuais todos os dias, levando-o ao esgotamento. Mas, apesar da insistência, ela não conseguia engravidar. Depois de algum tempo e várias tentativas, simpatias e estratégias, Adriana não engravidava. Álvaro passou a pensar que também tinha algum problema e como não tinham mais desculpas para dar aos pais dela, resolveram fazer um teste e perguntaram ao Sidnei se ele concordava em ir para a cama com Adriana, com a intenção de engravidá-la, a fim de que ela pudesse gerar um filho e satisfazer à família dela em curto prazo, antes que começassem a desconfiar que alguma coisa estava errada. Álvaro, por sua vez, caso conseguissem sucesso, iria procurar tratamento para possível esterilidade.

Apesar de confrangido, Sidnei concordou. “Afinal era para ajudar aos seus melhores amigos.” Foi o que ele disse, apesar de, no íntimo, ficar satisfeito em participar da trama, principalmente porque iria comer a Adriana, que não era de se rejeitar e, por incrível que poderia parecer, com o consentimento do marido dela, apesar de que, pelo melhor amigo ele faria, mesmo se ela fosse um bagulho. Desse modo, Pela prática do acordo, não correriam nenhum risco de serem pegos em adultério. A única coisa ruim é que o ato seria praticado, segundo combinaram, na presença do Álvaro, já que o único objetivo era fertilizar um óvulo da Adriana. Mas ele achava que não teria problema, porque não seria o fato de ter alguém olhando que iria inibi-lo. Já havia participado de bacanais quando era mais novo e não sentia vergonha, até porque era considerado bem-dotado. A presença do Álvaro inibiria qualquer insinuação de prazer por parte dela ao passo que, o dele, além da necessária ereção, era condição sine qua non. “Porém, ele entendia que, por questão de respeito, não deveria ser demonstrado.” – Pensou. Só exigiu uma condição: que Carla não tomasse conhecimento do combinado, porque não saberia qual seria a reação dela. Ela poderia não entender que ele não a estaria traindo, seria como um serviço profissional, e não queria prejudicar o seu casamento, porque a amava e se entendiam perfeitamente. Também tinham as crianças para criar. O ideal seria que conversassem os quatro, mas a Carla poderia não concordar em emprestá-lo, apesar de que seria só o pênis, segundo ele, sendo assim, eles teriam que procurar outro parceiro, o que não era aconselhável, porque seria mais uma pessoa a conhecer o segredo, ou contratar uma clínica de fertilização, mas o serviço é muito caro. Então era melhor ficar entre os três, até porque ele achava que no dia certo, bastava uma vez para resolver o problema.

Como planejaram, o serviço passou a ser executado. Mas nem tudo aconteceu o que eles tinham planejado: Sidnei sentiu-se inibido com o fato de Álvaro ter ficado dentro do quarto para assistir o ato sexual entre ele e a Adriana e perdeu a ereção, melhor, não chegou a ser uma ereção. Ele disse que infelizmente não iria conseguir daquele jeito e que era melhor desistirem. Álvaro, então, pediu que Sidnei tentasse sem a presença dele. A sós no quarto, buscando resolver o problema e, utilizando-se de preliminares, desinibiram-se e acabaram se envolvendo em carícias que, culminaram em satisfação plena de ambos, numa relação muito prazerosa. Combinaram muito bem no dar e receber amor e a partir de então, cada encontro era aguardado com ansiedade. Lógico, que não foi uma vez só, como inicialmente pensavam. O Álvaro pensava.

O Silvio também não conseguiu engravidar Adriana, mesmo depois de vários encontros, ainda que sob acompanhamento da médica dela, que lhe orientava sobre a ocasião mais propícia, de acordo com o ciclo menstrual e controle do ph.

Adriana falou sobre o seu problema com Carla: que estava querendo engravidar, já vinham tentando há meses, mas nada. “Pior que o Álvaro já está ficando desanimado, sabe como é, né? Às vezes nem se anima... Está pensando que tem algum problema. Ele vai fazer um espermograma.“ – Comentou. Carla ficou pensando que a amiga é que não deveria estar sabendo lidar com o homem como ela, porque com ela ele era bastante satisfatório e nunca negou fogo, ao contrário, estava sempre no ponto.

Como Adriana não engravidou, nem de um, nem de outro, eles resolveram fazer exames de fertilidade. A descoberta foi uma bomba: Adriana tinha um problema que a impedia de engravidar, provocado por fatores imunológicos, que são substâncias biologicamente ativas funcionando no sistema imune, destruindo agentes que entendia como patogênicos: os elementos considerados estranhos ao organismo, antígenos. No caso dela, o sistema considerava o espermatozoide como um intruso na organização e o rejeitava e destruía antes que atingisse o óvulo. Foi iniciado, então, tratamento com vacina para corrigir o fator imunológico.

Álvaro era normal e Sidnei era estéril. É lógico que Sidnei não confiou no exame e fez questão de repetir em outro laboratório, mas o resultado foi igual. Fora de si, quis saber de Carla que era o pai dos filhos dela que ele estava criando como se fossem seus. Ele teve que contra pra ela a trama dos três, para que ela soubesse como descobriu que tinha sido traído por ela.

“Você nem imagina, mesmo, quem é o pai dos meus filhos?” – Ela perguntou indignada. “É claro que é o seu amiguinho. Ele vinha se fazer de coitado pra cima de mim, que a mulher dele não tinha ânimo pra sexo e eu não conseguia me controlar porque você não me dava satisfação suficiente também. Então a gente transava para fazer bem um para o outro. Agora estou achando até que era armação dele, porque o swing, parece, rolou solto entre vocês três. Pior que eu, na maior inocência até senti pena deles.”

Adriana, por sua vez, não admitiu, também, também ter sido traída por causa do seu problema psicológico. Assim, os dois casais entraram em acordo: já que não houve em nenhum dos casos a intenção de trair, que o objetivo era manter a harmonia, Adriana iria continuar o tratamento para engravidar novamente de Álvaro e quando, conseguissem o objetivo, eles tornariam públicas as respectivas separações e a troca de casais.