Na verdade

Silvério era um homem que vivia (pois ele não mais vive) a procurar a verdade. Lia todos os jornais da cidade e não perdia um dia sequer do noticiário. Seus amigos mis próximos nem precisavam se dar ao trabalho de fazer o mesmo: bastava u ma tarde com o companheiro e já saíam informados sobre o que acontecia no mundo todo.

Silvério odiava ver as pessoas inventando todas aquelas mentiras para as crianças, e o resultado disso foi que seus filhos nunca acreditaram em coisas como a cegonha, papai noel e coelhinho da páscoa, e por isso eram sensação entre os coleguinhas: sempre que estes queriam saber de algo, corriam para algum deles dois. Uma vez Silvério foi chamado pela "tia" dos garotos porque ele dizia a verdade. A moça estava indignada pelo fato de um de seus alunos ter dito que deus não existia. O homem, já costumado com aquele tipo de situação, logo emendou: "As crianças também têm o direito de saber a verdade." "Que verdade?", perguntou a irritada professora. "Se seus pais nunca se preocuparam com isso, não cabe a mim ensiná-la agora. Mas talvez você pudesse aprender um pouco com meus filhos." Silvério morreu e nunca mais foi chamado por professor algum.

Apesar de toda sua preocupação com a verdade, nunca pensou em ser militante, advogado, jornalista ou político. Era feliz em sua profissão de barbeiro, onde sua palavra era muito mais influente que seria dentro de qualquer redação ou tribunal.

O único problema foi Siilvério ter esquecido que a verdade não estava apenas nos noticiários mas também naqueles fios que cortava todos os dias, nas poças que pisava depois da chuva e principalmente na mentira. Sem a mentira não haveria a verdade que ele tanto prezava.

Silvério morreu sem descobrir o que era a verdade de verdade.

Thais Gualberto
Enviado por Thais Gualberto em 08/07/2009
Reeditado em 12/07/2009
Código do texto: T1688096
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.