Adieu

Hoje eu sonhei com você. Toda vestida de branco, com os pés descalços, andando pela beira-mar. Queria correr para te encontrar, mas não pude, não tive coragem. Você subiu em uma pedra alta que ficava entre o mar e a terra e ficou na pontinha dela, correndo o risco de cair, mas sem se preocupar, porque estava adorando sentir a brisa bater no seu rosto e fazer seus cabelos voarem.

Fiquei lhe admirando durante todo o sonho, onde eu só tinha que dividi-la com a natureza. Não me cansaria de ficar uma, duas horas lhe vendo sentada na areia, se divertindo com os sargaços que eram trazidos pelas ondas ou com as marias farinha que corriam para se esconder quando se davam conta da sua presença.

Triste foi quando você veio até mim. Achei que não me veria e passaria direto, mas parou e chamou meu nome. Foi então que acordei e você estava sentada na beira da cama, vestida de vermelho com uma maquiagem preta carregada no rosto. Sua cara e corpo rubros pelo tratamento que recebera ao longo da noite, e mesmo assim você me olhava com a mesma ternura do sonho. Foi por tanto te amar que me dei conta da impossibilidade de viver desta maneira.

Me desculpe se não era essa sua vontade, mas vi que era a única maneira de lhe conservar minha, como no sonho. Um de nós tem que partir, mas você sabe que eu jamais conseguiria lhe fazer mal. Fez tudo isso para que eu tivesse o meu filho em paz, mas sabe que eu nunca o quis! Você sabia que nós não poderíamos ter um filho juntas e o tomou como seu. Foi um erro, pois eu te amo, e odeio essa criança.

Ela já tinha se apossado totalmente de mim, e essa era a única coisa que eu podia fazer para que você pertencesse novamente a si mesma.