MEMÓRIAS 15 "POR QUE MINHA MÃE MENTIU" > * <
Eu tinha uns 6 anos, além de pequenina eu era muito quietinha, tímida, nunca
Fazia artes, meus pais sempre foram muito rigorosos comigo, na minha educação.
Meu pai nunca me deu um tapa se quer, só de olhar para mim com a cara fechada, pronto _ Já era o suficiente para eu estremecer.
Minha mãe sim, me dava boas palmadas, mas o que ela mais fazia era me colocar de castigo sentada em um banquinho no canto da cozinha.
Onde eu ficava emburradísima.Eu era bem teimosa também e pirracenta. Mas não fazia pirraça de chorar, gritar, espernear.
Eu descobri o ponto fraco de minha mãe e usava isso.
Eu sentia que ela ficava com dó de me por no castigo e mesmo assim se fazia de durona.
Eu ficava uns 15 a 20m. Sentada. Então ela vinha e me dizia:-“Pode sair mais se fizer isso de novo apanha entendeu? “
Eu só de pirraça ficava mais uns 10 a 15 m. _ minha bunda doía mais eu ficava só para ela ficar com remorsos de ter me colocado de castigo.
(com coisa que a errada era ela e não eu que fiz a bagunça...)
Vai entender cabeça de criança?
Mas um certo dia eu me desconheci, tão pequena, tão frágil, nunca colocava as mãos em bichos, tinha medo e minha mãe não deixava eu segurá-los.
Mas nesse dia parece que o menino diabo estava ao meu lado. Morávamos em uma casa na frente onde tinha outra casa nos fundos.
E lá vivia uma mulher com seus filhos, uns sete ou oito não me lembro ao certo...
Eram meninos e meninas esses sim eram super levados.
Aprontavam o dia todo coma vizinhança, não davam sossego para ninguém.
Eles xingavam os piores palavrões, gritavam, brigavam com mos outros e com eles mesmos.
O pai não moravam com eles _ a mulher era muito escandalosa, boca porca e invejosa.
Saia á noite e chegava quase sempre carregada por um dos homens do bar, na época um escândalo. Os visinhos não gostavam nada dela, as moças os pais proibiam de conversar com ela, as mulheres casadas os maridos não permitiam.
Mas nesse certo dia todos tinham saído, eles viviam arrumando bichos, tinham:
Cachorros, gatos, pássaros, galinhas... E uma dessas galinhas havia chocado uns pintinhos. _ Eram fofinhos mas não sei o que me deu que de repente passei a mão em um deles e peguei em uma das perninhas e comecei a girá-lo, fui girando, girando, cada vez com mais força mais veloz. Até que ele escapuliu da minha mão e caiu na janela que dava para o banheiro, a porta estava trancada eu só ouvi uns pios e depois o silêncio.
Não fiquei satisfeita e repeti a cena mais algumas vezes, umas quatro ou cinco só que fazendo de propósito, para jogá-los na janelinha.
Então tive medo de alguém ver ou minha mãe, ou eles se chegassem e visse eu ali jogando os pintinhos fora me comeriam viva!
Em pânico fui para casa entrei em meu quarto, sentei-me ao chão com as pernas encolhidas e abracei as pernas e apoiei meu queixo sobe os joelhos, fiquei um bom tempo assim pensando... E agora?se descobrirem? O que fazer? O que vai ser de mim?
Mais tarde a mulher chegou com os filhos, quando viram fizeram um escândalo, foi uma gritaria uma xingação...
Chamaram minha mãe (pois éramos os visinhos mais próximos) para ver fui com ela um horror! Que barbaridade! Eu fiquei chocada com o que vi... Uns dois pintinhos mortos dentro do vaso, outros no chão, e ainda tinha um ou dois vivos piando muito...
Mas fiquei firme não deixei passar nada. _ olhei a cena como aqueles bandidos bem perigosos e frios, calculistas, como se eu não tivesse nada a ver com isso. _ pronta para negar tudo.
Conversa vai, conversa vem, uma das crianças me acusou, ou insinuou que poderia ter sido eu.
Estremeci, só pensava no castigo que meus pais iriam me dar, na surra que iria tomar, na vergonha de olhar para os amigos, os primos que moravam perto, de ser apontada na rua como ”A ASSSASSINA CRUEL”.
Mas mina mãe me defendeu, foi ao meu favor, me defendeu com unhas e dentes ,falou um monte para eles. _ “minha filha não!olhem só o tamanhinho dela.
_ Não alcançaria dessa altura além do mais ela não pega em bichos e nem entra na casa dos outros sem ser convidada, minha filha não foi.
Tiveram uma pequena discurssão, e ficou por isso mesmo.
Em casa minha mãe estava séria não deu uma só palavra, estranhei pois ela sempre falava muito e sobre tudo, sempre questionava opinava. Mas pra mim seu silêncio foi a prova de que ela sabia que fui eu. Sem coragem não toquei no assunto
_ Nem no dia seguinte nem na semana seguinte, nem um mês depois, nem no ano.
E já se passaram muito longos anos, nunca tive coragem de perguntar sobre isso a ela.
Mas sei que ela sabia, só não sei o por quê, ela mentiu.