Liberdade
Não que ela estivesse infeliz na nova morada.
Tudo parecia perfeito, não fosse o passarinho melancólico que cantava numa gaiola ao lado da sua janela.
Um dia, abriu a portinhola e esperou que ele, incontinenti, escapasse para a liberdade.
O pintassilgo, porém, dava voltas no exíguo espaço, chegava até à porta e recuava. Repetia os movimentos e a olhava, confuso.
Estariam seus olhos acostumados ao desenho das grades da clausura ao ponto de renegar o azul do céu? As suas asas estariam pesadas, dormentes e inaptas ao vôo? Teria perdido a capacidade de buscar alimento e sobrevivência junto aos seus iguais?
E se, ao contrário do que ela supunha, ele estivesse feliz e sereno ainda que condicionado pela total falta de expectativa que lhe fora imposta ?
Nunca saberia.
Dois dias depois, os vizinhos choraram ao sepultar o pequenino corpo na lata de lixo.
Ela sorriu. Sentia-se tão livre quanto o Pintassilgo.