Cadernos do homem comum [6] - Rafinha
Os policiais levavam o motorista do ônibus para interrogatório. Rafinha observava a cena, sentado em uma das velhas macas do hospital. Não conseguia ficar com raiva do motorista, embora se esforçasse para isso. Estava inconsolável. Baixou a cabeça e fixou os olhos em seu braço direito; sua mão fora amputada. Logo a mão de que tanto necessitava; a mão do trabalho.
Ele fitava o espaço vazio. Ainda podia senti-la; não sabia como, mas podia. Era algo como um membro fantasma, segundo alguns médicos tentaram lhe explicar; logo passaria. Ele não tinha tanta certeza, mas preferia acreditar. Sabia que seria difícil viver sem a sua mão. Era ela quem o definia; a mão do trabalho, a mão com a qual construía não só casas, mas o seu futuro. Era ela que dava de comer a sua família; não era parte de seu ser: ele é que era mão.
Um médico lhe deu alta. Ele se levantou, frustrado. Não sabia o que dizer para sua mulher, nem para seus filhos. Perdera a sua mão... perdera a sua identidade... provavelmente perderia também o seu trabalho. Não seria mais o pedreiro Rafinha, não mais exerceria a profissão que o definira desde a sua juventude. Não sabia o que deveria fazer a partir de agora, mas tinha certeza de que teria de fazer alguma coisa; tinha bocas a alimentar... Talvez, pensou ele, fosse a hora de olhar para a mão esquerda.
Observação: este texto faz parte de uma série. Checar o site do autor para acompanhá-la desde o início - http://www.leonardoschabbach.com
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Os policiais levavam o motorista do ônibus para interrogatório. Rafinha observava a cena, sentado em uma das velhas macas do hospital. Não conseguia ficar com raiva do motorista, embora se esforçasse para isso. Estava inconsolável. Baixou a cabeça e fixou os olhos em seu braço direito; sua mão fora amputada. Logo a mão de que tanto necessitava; a mão do trabalho.
Ele fitava o espaço vazio. Ainda podia senti-la; não sabia como, mas podia. Era algo como um membro fantasma, segundo alguns médicos tentaram lhe explicar; logo passaria. Ele não tinha tanta certeza, mas preferia acreditar. Sabia que seria difícil viver sem a sua mão. Era ela quem o definia; a mão do trabalho, a mão com a qual construía não só casas, mas o seu futuro. Era ela que dava de comer a sua família; não era parte de seu ser: ele é que era mão.
Um médico lhe deu alta. Ele se levantou, frustrado. Não sabia o que dizer para sua mulher, nem para seus filhos. Perdera a sua mão... perdera a sua identidade... provavelmente perderia também o seu trabalho. Não seria mais o pedreiro Rafinha, não mais exerceria a profissão que o definira desde a sua juventude. Não sabia o que deveria fazer a partir de agora, mas tinha certeza de que teria de fazer alguma coisa; tinha bocas a alimentar... Talvez, pensou ele, fosse a hora de olhar para a mão esquerda.
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