Cadernos do homem comum [1] - Horácio

[1]

Ele era muito mais atento do que as outras pessoas. Todos os dias, saía de casa, girava a chave duas vezes para trancar a porta e dava três passos até o elevador. Assim que alcançava a rua, contava exatos cinco minutos de caminhada e virava à direita; estava no metrô. Sua atenção era total. Sabia que era crucial não deixar escapar nenhum detalhe. Era necessário sentir todas as coisas à sua volta.

Após descer as escadas, dava mais quinze passos até a bilheteria, adquiria a sua passagem, caminhava por mais dez segundos e passava pela roleta. Esperava logo no início da plataforma; era definitivamente menos trabalhoso. O metrô chegava. Ele tateava a porta por alguns segundos; era sempre fria, de aço, tinha certeza, ou talvez fosse de alumínio.

A viagem era sempre tranqüila. O horário não era muito movimentado. Ele se sentava e esperava pacientemente até a sua estação. Quando ouvia “next stop, Botafogo station” logo se levantava; só prestava atenção à voz quando ela falava em inglês.

Após cento e doze passos, um corrimão e uma escada rolante, saía do metrô. Geralmente estava calor do lado de fora, mas assim era o Rio de Janeiro. Ele se espreguiçava e andava até o trabalho; não ficava muito longe, bastavam trecentos e quarenta e sete segundos.

[2]

Horácio trabalha em um renomado laboratório; faz análise de amostras sanguíneas.



- Para mais textos, visitar o Site do Escritor -

- Conheça também o Na Ponta dos Lápis, um blog sobre literatura -

Leonardo Schabbach
Enviado por Leonardo Schabbach em 01/07/2009
Reeditado em 24/11/2009
Código do texto: T1677121
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.