MEMÓRIAS 14 " A TESOURA" > * <

Era Agosto mês de muito vento eu tinha uns seis ou sete anos, mas

lembro-me como se fosse ontem.

Morávamos eu meu pai e minha mãe em um lote onde havia

uma casa nos fundos.

Lá morava uma mulher com sete ou oito filhos não me lembro ao certo.

Lembro-me que ela era escandalosa, boca porca e muito invejosa.

Minha mãe era muito trabalhadeira, cuidava da casa, estudava a noite trabalhava

Fora e ainda fazia trabalhos artesanais em casa.

Ela fazia tricô, crochê, pintura, bordado, costura...

Mas no momento ela estava fazendo uma colcha amarrada que ficava do lado de

Fora da casa encostada na parede.

Era um quadro bem grande de madeira que não cabia dentro de casa ele era todo

Contornado de preguinhos. Minha mãe teceu essa colcha a manhã todinha, pois a tarde

O rapaz ia buscar a colcha. _ Faltava algumas carreiras para ela terminar, mas minha

Mãe estava com uma terrível dor de dente, resolveu tomar um analgésico e deitar um pouco.

Eu nunca ficava no quintal sem minha mãe, fiquei trancada com ela dentro de casa, assistindo

Tv, desenhando, colorindo...

Faltavam poucas horas para o rapaz chegar e levar a colcha.

Minha mãe já tinha melhorado, disse que estava só um pouquinho dolorido.

Lembro-me que ela comentou: _ Esse dente vai ser canal, ou extração.

Não entendi nenhum dos dois, mas optei por ”extração” achei mais chic.

E fiquei repetindo a palavra: ” EXTRAÇÃO... EXTRAÇÃO....”

_ Fomos para o quintal onde minha mãe ia terminar a colcha.

E quando olhamos para a colcha... _ Um buraco enorme.

Minha mãe ficou transtornada, pois tinha a responsabilidade de entregá-la naquele dia e não dava

Para concertar.

_ Nós duas ficamos atônitas olhando sem entender nada.

A tal “mulher” estava estendendo roupas no varal, e olhando para nós com um risinho nos lábios.

Minha mãe perguntou á ela se tinha visto alguém entrar lá ela disse que não.

Mas desconfiava da mulher, só não tinha provas.

E por causa dessa desconfiança começou a conversar com ela disse quem teria coragem de estragar

O trabalho de alguém, e pra que?

A mulher dizia: Então, que coisa né?

Conversa vai conversa vem, e o rapaz chegou para levar a colcha.

Minha mãe começou explicar a ele o ocorrido a mulher estava escutando a conversa mais não tirava

O risinho cínico dos lábios, e disse : _ Liga não boba! você já tem tanta coisa, uma casa grande, uma marido

Trabalhador, estuda também trabalha uma filha só. Isso é bobagem.

Minha mãe disse: _ bobagem não! É um trabalho que prometi fazer para ele e tenho que entregar.

Nisso a mulher ri bem alto e diz: _ Azar o seu então, quero ver você sair dessa?

_ Será que foi você que fez isso?

_ Eu não!Ta doida! To indo embora antes que sobra pra mim.

_ Mas antes vai a merda você e seu trabalho.

E foi-se virando quando minha mãe puxou-a pelo braço e disse : _ Não fala assim comigo não

ainda mais na frente dos outros e da minha filha!

Com isso a mulher deu um safanão e na hora caiu uma tesoura que estava na cintura dela debaixo

Da blusa.

_ Minha mãe pegou a tesoura e disse: Que significa isso? Não seria com ela que você cortou meu trabalho?

A mulher riu e disse: Foi sim e daí vai me bater?

Minha mãe sega de ódio e a dor voltava não pensou duas vezes avançou na mulher e começaram a brigar...

O pobre do rapaz ficou sem saber o que fazer.

Nisso chega meu pai do trabalho e o rapaz conta para ele o que tinha acontecido, meu pai olha as duas brigando

E senta-se comigo ao lado na beirada da área.

O rapaz diz: _ Você não vai fazer nada?

_ Não, faz tempo que minha mulher esta precisando dar essa surra nela.

_ E faz tempo que ela esta precisando dessa surra, além do mais não me meto em briga de mulher.

A mulher disse que ia chamar a policia, minha mãe falou: _ pode chamar se não o fizer chamo eu.

Quando os policiais chegaram eles nem ouviram a história e foi logo dizendo:”Você de novo!”

Assim vai acabar virando sócia na delegacia.

Ela já tinha a ficha suja por roubo,abandono de menor, tráfico de drogas, agressões e desacato...

_ Enfim era uma bandida.

Mas a lembrança que tenho desse episódio.

É com que serenidade meu pai olhava para minha mãe se atracando com a outra .

Ele olhava tão calmo, perdi boa parte da briga olhando nos olhos verdes dele, e pensei...

“_ O que será que ele está pensando?”

É tudo o que eu queria saber... Mas nunca vou saber... Nunca.

Lee Nunes
Enviado por Lee Nunes em 29/06/2009
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T1672750
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