A Corações que Ardem

Ainda lembro do impacto que sofri por volta do meio-dia, era intervalo do expediente e prometemos não falar em trabalho. A mesa azul em seus olhos refletia a longa espera de seu prato.

Falamos sobre a saudade da infância das travessuras e mapas de tesouros encontrados no fim da tarde. De repente como alguém que não espera por uma buzinada e ele flerta a mesa e desfere sua dor sobre um amor que desligou o pulso da sua mão e fala que isso tem atropelado sua vida mesmo parada e longe do transito.

Maria Cravo Canela - única fêmea na mesa - quase que chorou, mas eu disse que não, temos que conforta-lo e nossos olhos se derretendo não é a forma mais viável. Ele diz que a faca do tempo riscou seu amor e confessa como aconteceu, fala como esta sustentando o piso, mesmo que isso rache as placas do coração.

A mesa foi tomada por um assaltado sentimental, como se a perda de um braço que compõe versos e o prazer solitário - digamos o braço que faz punheta - fosse arrancado como única forma de entendimento, o nosso velho barbudo agora estará em magoas. Apesar de sua camisa abotoada e seu 1,90 de altura, era possível ver que seu coração sangrando nas aves.

Enquanto eu olhava para rua os pedestres que passavam, compreendia que o amor é que sempre dilacera os corações dos centauros selvagens - como ele e como eu. Nada se consegui o falar na mesa, mais sorriamos e tragávamos o feijão, arroz e dilacerávamos o bife ao molho.

***

Noutro dia relatou da aventura que tinha vivido passando a noite em um hotel de maribondos. Apesar de a dor mexer com ele, ele se faz de forte e sustenta o impacto.

Li outra vez em seu poema que dizia “voltar a dobrar as camisas, trocar de calção e ir para rua" acho que era assim, que apesar de tudo temos riscar coisas pendentes no calendário e ir chutando a vida devagarzinho como quem não quer fazer gol até a grande área.

O expediente se encerrava mais uma vez e Deus entregava o dia para noite, ele segui o pela ponte pegando a Avenida Guararapes chutando pedras que sobre o assunto, nada falavam.

Aldemir Suco
Enviado por Aldemir Suco em 21/06/2009
Código do texto: T1660168
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