Noite de agosto

Na fria noite de agosto, quando todos os gatos deveriam ser pardos e todos os sons deveriam assustar, eu te encontrei.

Te encontrei triste, ébria, bradando frases que a qualquer pessoa pareceria loucura.

Mas te entendi. Vaguei em teus pensamentos como vago em minha própria existência. Tomei teus brados como meus próprios. Senti tua dor como a minha própria.

Te vi. Te ouvi. Te percebi. Mas nada falei. Te olhei como quem olha um imponente monumento. Te escutei como que escuta uma sinfonia. Te senti como quem sente a presença de um deus.

Te segui. Te vigiei por toda aquela noite. Sabia que em algum momento você também me perceberia. Te vi entrar em um prédio. E te deixei ir. Para casa? Sua casa? Talvez.

Você se foi e não me percebeu. Eu volto para casa. Minha casa. Sozinho. De novo.