EU FOTOGRAFO COM AS LETRAS...
Era bem cedo e ali o outono parecia esboçar seu adeus, a lançar nas margens do lago seus resquícios dum sol morno, tinto dum ouro brilhante recém chegado ao dia.
Marina atiçava dois cisnes negros que tranquilamente nadavam em sua direção para abocanhar os pedacinhos de pão amanhecido que a menina lhes lançava aonde as águas ondulavam ao chão.
-Mamãe, olha como eles estão com fome...
Não tardou ela apareceu.
Ela que eu sempre a procuro, e que quase nunca está ali, dessa vez reapareceu já bastante crescida, branca como um floco de neve, embora vinda da poluição do rio, equilibrada nas suas perninhas tão finas que mais me pareciam dois gravetos andantes.
Então, a bela garça visitante do parque aos poucos se juntou aos dois cisnes negros para emoldurar aquele pedacinho de chão maravilhoso, sob as folhas dum coqueiro baixo, que mais parecia uma cena dum quadro impressionista.
De súbito, percebi que uma borobleta multicolorida de cores fortes e recentes pousou no dorso dum cisne, a matizar o contraste da tela.
Foi saudada com palavras que não compreendi.
Pensei em Deus e agradeci pela beleza do contraste das diferenças e também por aquele momento de paz.
Levei as mãos ao bolso a procura da minha máquina fotográfica.
É sempre assim.
Quando a aquela garça reaparece, minha máquina nunca está às mãos.
Foi então que resolvi fotografar aquela beleza com o recurso das minhas letras.