A Metamorfose

Ela era uma garota desajeitada, tinha apenas 17 anos, formada no ensino médio, estudiosa e bonita. Devido á educação religiosa que recebeu não se valorizava como mulher, quase tudo para ela era pecado e perversão. Não se conhecia, nunca tinha se apaixonado. Recusava inúmeros convites dos rapazes. Porém, apesar de ser tão rígida consigo mesma sofria silenciosamente quando a Lua e as estrelas despontavam no céu.

A Lua a fazia pensar em como era insignificante diante da vida e que ao contrário da Senhora da Noite com toda a sua luz e beleza, ela apesar de ser tão nova não irradiava luz alguma. Afinal, o que ela era? Seu nome era Safira, sua mãe dizia que escolheu esse nome por causa dos seus grandes e lindos olhos azuis. Será? olhava-se no espelho e realmente seus olhos eram de um azul profundo e lindos, mas também desprovido de brilho, eles eram tristes e apagados, mas não deixavam de ser belos.

Todas as noites lia um livro, os seus preferidos eram os romances, sempre imaginava ser a mocinha das histórias e sonhava que seu príncipe aparecesse e a resgatasse daquela solidão em que vivia. Agradava seus pais, era filha única, mas era profudamente infeliz e chorava muito quando cansava de ler. Ás vezes o choro desesperado e sua alma sufocada exauria seu corpo e sentia-se uma escrava que tinha acabado de ser chicoteada. Não sabia quando aquela tristeza que embalava seu espírito teria fim. Seria bom se morresse, assim acabaria aquela tortura.

E os pensamentos de morte começaram a possuir a mente de Safira, não tinha um dia que não pensasse nisso, estudava as várias formas diferentes de dar fim a sua vida. Suicídio era pecado para Deus, mas ela parou de se justificar e achava que até o inferno seria melhor. Após imaginar a morte no trem, na frente dos carros, envenenada, espatifada depois de se jogar de algum prédio, pensou e resolveu que iria morrer de overdose. Conhecia as pessoas que usavam drogas e chegaria até eles e usaria cocaína, tomaria uma dose cavalar e assim morreria feliz.

O dia de colocar fim a sua vida finalmente tinha chegado, foi encontrar-se com os maloqueiros do seu antigo colégio. Sentou-se e disse: - Eu quero comprar a cocaína!! pago o quanto quiser. Imediatamente, as três garotas e os quatro rapazes riram sem parar. Ela sem entender ficou calada e sufocou as lágrimas. Depois de uns minutos ela conheceu o grupinho; as meninas, Isabela, Isadora, Melissa e os rapazes, Rafael, André,Tiago, Mateus e Lucas. O ultimo tinha fascinado Safira com sua beleza e seus olhos meigos.

Lucas a observou com espanto e curiosidade e a convidou a se sentar. Todos estavam pasmados com aquela atitude, ficaram surpresos quando ela começou a falar de si mesma e das coisas que gostava. Depois de horas de conversa, eles tinham se cativado por aquela garota tímida, sincera e inteligente. Explicaram a ela que ninguém ali nunca usou drogas e que eram apenas boatos por ficarem escondidos tocando músicas e rindo de tudo.

Safira chegou em casa aliviada, depois de tantas noites de choro iria dormir em paz. Dormiu como um anjo e acordou tarde. Assim, que levantou para tomar o café da manhã o telefone tocou. Ela atendeu e do outro lado da linha era Lucas quem falava. Ela ficou entusiasmada. Combinara de encontrar-se novamente com o grupo.

E esses encontros foram se prolongando e Safira já não era mais uma morta viva. Sorria, expressava seus sentimentos, suas vontades, aos poucos as mudanças ficaram nítidas. Já não era uma menininha chorona.

Os dias transformaram-se em meses e Safira, já não usava mais saias até os pés, seus cabelos sem vida e longos foram cortados até o ombro. Maquiava-se, penteava os cabelos, gostava de jeans e de tênis coloridos, adorava rock e usava preto. Saía com seus novos amigos e com seu namorado Lucas. Agora, não era mais triste e vazia. Aprendeu que a realidade é bem melhor que a fantasia. Amadureceu e trabalha em uma empresa de contabilidade.

Sua mãe só chora, não sabe o que se deu com Safira, faz vigílias na igreja pois diz que o Diabo se apossou da menina, mas aceita Safira e tem alguma esperança que ela volte a usar saias e a manter o cabelo comprido.

Enquanto isso, Safira desfruta os seus dias e já não pensa mais em morrer, procurando a morte encontrou a vida.

Anna Azevedo
Enviado por Anna Azevedo em 16/06/2009
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