BRIGA DENGOSA
Era uma tarde de segunda feira, Dona Cleonice havia passado o fim de semana inteirinho varrendo, lustrando, passando pano e lavando as louças de sua casa, a final, limpeza era seu segundo nome.
Adorava plantas de todas as espécies, inclusive as aquáticas que eram sua verdadeira paixão, e estavam espalhadas por toda casa, tanto do dado de dentro como do lado de fora.
As horas corriam loucas e o almoço já estava pronto. Foi neste instante que Marcos Júnior entrou esbaforido na cozinha dizendo:
- Manheeeeeeeeeeeeeeeee, já cheguei da escola!
- Direto lavar as mão garoto! – Responde apressada pondo a mesa
Neste mesmo instante, entra voando pela janela uma mosquita bem vagarosa, procurando alguma coisa. Dona Cleonice estava tão entretida que sequer percebeu ilustre presença.
A mosquita rodopiou pra cá, e pra lá, pousou e voou até que encontrou o que estava procurando, aquele vaso de planta aquática seria perfeito para seu plano de reprodução. Mas quando estava prestes a alcançar o vaso de planta ela escuta uma voz que pergunta:
- O que a senhora pensa que está fazendo? – Marcos Júnior estava com as mãos da cintura e sua feição não estava de bons amigos – te fiz uma pergunta!
- Oras? O que mais estaria fazendo? – encarou o menino olhando nos olhos – Bolo de fubá?
Dona Cleonice ao escutar seu filho falando sozinho indaga preocupada:
- Está bem querido? O q deu em você para estar falando sozinho?
Antes mesmo que Marcos Júnior respondesse qualquer coisa, a campanhinha tocou obrigando Dona Cleonice atender a porta. Qual foi sua surpresa ao ver um agente de saúde e uma repórter parados iguais duas estátuas na porta com o maior sorriso que poderiam fazer para alguém. Achando aquilo tudo muito estranho, Dona Cleonice perguntou:
- O que desejam? Estou atrasada com o almoço!
- Não vamos demorar – respondeu o agente de saúde – estamos aqui por causa do surto da dengue em nossa cidade, a coisa ta tão feia que a TV mandou uma representante para cobrir todos os nossos procedimentos no combate a este mosquito. Me chamo Adalberto! Podemos entrar?
- Claro que não! – dona Cleonice não estava para conversa – e me dêem licença!
- Só um momento senhora – foi a vez da repórter – meu nome é Beth Estrela e trabalho no programa Bate-Entope, aposto que me reconhece agora!
- Agora que não os deixo entrar mesmo, detesto seu programa!
Enquanto a discussão rolava solta lá na porta, Marcos júnior e a mosquita também não davam trégua.
- Não venha querer me enrolar mosquita de beira de lagoa! O que iria fazer no vaso de planta da minha mãe?
- Menino futriqueiro! Porque não cuida da sua vida?
- Se não me disser, te jogo Baigon na cara! – o menino levanta a mão simulando o Baigon.
- Ta certo, me rendo! – a mosquita se afasta um pouquinho – Sabe o que é... Sou uma pobre mosquita indefesa que só quer um lugar para depositar meus ovinhos!
- Como assim? Você coloca ovos? – marcos Vinicius estava confuso
- Sim, muitos! Mas só gosto de água limpinha e parada... Igualzinha a do vaso de planta aquática da sua mãe. Prometo que meus filhos não darão trabalho algum pra vocês – fala sinicamente com olhos de piedade.
- Me disseram na escola que tem muita mosquita da dengue que deixa agente doente, por acaso você não é uma delas é?
- sou sim, digo... Sou não! Imagina! Tenho horror dessas mosquitas, são más e muito mentirosas. Delas quero distância!
- Então, já que é assim... – Marcos Júnior deixou a mosquita na cozinha na missão de colocar os ovos na água parada e limpa do vaso de planta de Dona Cleonice. Estava escutando uma conversaria na porta de casa e foi se juntar a mãe e ver o que estava acontecendo. Marcos Júnior viu sua mãe furiosa na porta e prestes a soltar fogo pela goela:
- Não vão entrar e pronto! Já disse! – Dona Cleonice já estava com a vassoura na mão e ameaçava os dois ferozmente.
- Heita mulher brava! Só queremos acabar com a dengue dona! – o agente de saúde segura a vassoura.
- Não posso perder esse barraco por nada! – disse a jornalista
- Para gente! Vocês tão pior que criança! – Marcos Júnior intervém – Como é esse negócio de dengue?
Todos pararam envergonhados.
- Dengue é uma doença transmitida por uma mosquita fêmea toda listradinha de branco com preto e que adora depositar seus ovos em água tranqüila e limpa. Entendeu garoto? Por isso queremos entrar e colocar um remedinho pra eles não se reproduzirem.
- Mas estou dizendo que não vão entrar e pronto! – cruza os braços.
- hum... – pensativo – mãe, deixa eles entrarem sim... Preciso mostrar uma coisa bastante interessante.
Marcos Júnior os levou até a cozinha, onde a mosquita estava felicíssima na postura dos muitos ovos naquele vaso de água tão limpa. Silenciosamente os quatro andaram nas pontas dos pés para não fazer barulho, o menino fez sinal para o agente de saúde localizar o ponto certo onde estaria a mosquita.
Ele então tirou de sua mochila um mata mosquitos e mirou certeiro na mosquita.
- Ai ai, essa mulher cozinha mal pra caramba que cheiro ruim! – a mosquita respira bem forte até que percebe que algo está errado – Nossa, to zonza... O que está acontecendo.... – tentando fugir não resiste e cai morta.
Ao ver que o plano tinha sido um sucesso, e que o programa Bate-entope estaria fervendo no dia seguinte, todos ficaram felizes e livres do mosquito da dengue, pelo menos até que o agente de saúde voltasse.
Wyller Cerutti