O REPORTER E O ALIENADO
O jovem repórter, ao encontrar-se com aquela figura carismática e com idade já avançada, ficou intrigado com o que via e iniciou a entrevista com, a seguinte pergunta:
- Seu nome senhor e qual é sua idade?
- Meu nome é João Silva e minha idade ,92 anos !
- O senhor é casado, e tem filhos ?...
- Viúvo e tivemos quatro filhos, dois já faleceram e os outros dois desapareceram!
- Desapareceram?...
- É, foram embora para a cidade e nunca mais eu soube noticias deles!
- E o Senhor não foi procurá-los ?
- Eu , não conheço a cidade, não tenho telefone, não vejo televisão, não escuto radio e não leio jornais.
- Então o Sr. é um alienado ?
- Não, eu sou é um homem muito feliz?
- Como? ...Se o Sr. disse que nunca foi a cidade ,não houve noticiário, não sabe noticia dos filhos ? ... Mas fala tão corretamente !
- É verdade filho, mas quanto ao falar corretamente eu aprendi com minha mãe e com meu pai. Ir a cidade nunca fui ,pois aqui sempre tive o que queria. Tenho minha criação de patos e galinhas, planto e colho o que preciso, água é da vertente, frutas tem no mato e, isso sempre me foi suficiente para viver. Minha companheira gostava de colher as flores do campo e nossa casa sempre foi alegre. O corpo dela e dos dois meninos, estão enterrados no fundo do quintal e as cruzes de cada tumulo está com o os seus nomes . Meus cachorros e gatos sempre deixaram sucessores, a paisagem e divina e eu me sinto no paraíso. Meus outros dois filhos são do mundo, fiz minha parte e só. Eles sabem onde moro, eu não sei os seus endereços. Quem deve procurar quem. Rezo por eles e espero que façam o mesmo por mim. Jamais fiquei doente, pois não poluo meus pulmões e nem vivo estressado . Sei que este é meu espaço, meu legado . Sei também como vivem nas cidades , porque leio alguns livros de bons autores, que o vizinho lá do outro lado do morro me empresta, quando vem aqui me visitar e me contar algumas novidades . Não troco minha vida – ou o tempo que resta dela - por nada neste mundo e se tu és um bom estudante meu jovem irás entender minhas razões . Só te peço que não digas meu endereço a ninguém, pois não receberei mais nenhuma outra pessoa para falar sobre o que falamos agora. Deixe-me ser feliz e viver ,...alienado, mas em paz.
O jovem anotou tudo o que havia sido dito, despediu-se de João silva, com os olhos brilhando e disse para finalizar.
- Está muito bem Sr. João, foi um grande prazer conhecê-lo, passar estes momentos e aprender tanto em tão pouco tempo. Que Deus o proteja Senhor.
- A ti também- Respondeu João, entrando na porta principal da pequena casa campeira e abanando em sinal de despedida.
O jornal principal da cidade, na edição de domingo, página central, estampava a seguinte manchete:
João Silva, “Viver alienado,...no paraíso”.
Por: Henrique Marton.