Zé Sertanejo

Ele parecia exausto. O cansaço em suor nascia dos poros como a verter d`uma fonte

Nas mãos, a marca da lida. Calos cobriam, uma a uma, as marcas das linhas que regi a existência

E como se em punição, o astro imponente emitia seus raios numa cadencia faiscante

Mas não lastimava a pele ardida, cabelos grisalhos, ou os pés descalços a equilibrá-lhe a vida...

Na timidez d`um sorriso, ele tentava dissimular a subnutrição e vestes em tiras...

Eram enodoados farrapos, que nem mesmo a velha calça da missa, podia mais disfarçar

E assim juntava-se ao coro dominical... Em preces decoradas, buscava esquecer a panela vazia

E, antevia o dia seguinte. A cabaça e marmita jogada num canto, sem ovo, sem água, sem bóia-fria!...

Entremeando a celebração, sempre um mesmo ritual assim se repetia. Coração apinhado

Cesta vazia, bolso furado e lagrimas a inundar-lhe os olhos. Olhos que, raras vezes, eu vi lagrimar...

Ínfimos marejar, frente ao filho caçula querendo um ingênuo par de alparcatas usar

Ou, outrossim, pelos dois primogênitos a caçar pena, papel e tinteiro, ambos pra estudar

Transcorrida a oração e tendo louvado ao Senhor, torna pra casa, Zé sertanejo. Água não mata fome!

Talvez até enganasse se lá a tivesse! E... Tirando o olhar duma mãe, já sem esperanças, lamentando a sorte da cria

Ele ainda é feliz. Não sabe etiquetas, rir espontâneo, não xinga ninguém no transito e nem liga pra correria

Assim, tudo... Mas tudo está bem. Na imensa planície selvagem, lavra firme e com fé, o pobre-rico José!...